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Eloquência do Silêncio

Num mundo que parece cada vez mais agitado, barulhento, em stress desgastante, com muito barulho dentro e fora de nós, parece necessário cultivar mais o silêncio, a paz interior, encontrarmo-nos a nós mesmos e encontrar Deus fonte da paz e da serenidade.

Este apelo chegou a mim, de um modo muito veemente com o livro “Deserto na cidade”. O autor propõe-nos fazer deserto dentro de nós para nos encontrarmos com Deus, o Deus que fala no silêncio. O deserto não é um lugar, mas um estado interior que quer comunhão e intimidade com Deus, com a fonte da paz e da felicidade, da alegria e da graça. Fazer deserto dentro quando à nossa volta há barulho na vida, no trabalho, na cidade, no metro, etc. Aprender a arte do silêncio interior, de um recolhimento que nos dá paz e serenidade, que nos abre ao diálogo, que nos deixa escutar Deus, ouvir os murmúrios do Espírito, a voz do deserto, a paz que nos segreda e nos faz entrar nos mistérios do amor de Deus uno e trino. E neste silêncio até a oração se vai transformando, cada vez com menos palavras, menos pensamentos, mais escuta e comunhão. Deserto na cidade, na vida quotidiana, em casa, na rua, nas compras, no trabalho. No meio do reboliço e da multidão, recolher-se dentro do coração onde Deus está, como num sacrário. E aí entrar em comunhão permanente, mesmo sem palavras.

Tive a graça de encontrar agora outro livro, que me foi oferecido por uma pessoa amiga, da autoria do Cardeal Robert Sarah, que tem por título “A força do silêncio”. Páginas maravilhosas que nos convidam, neste mundo agitado e atribulado, a fazer uma cela no coração e estar com Deus. E esse silêncio não é egoísmo, é necessidade imperiosa para se conseguir equilíbrio, serenidade, fecundidade apostólica, força interior capaz de vencer dificuldades, tentações, nervosismos, stress.

Com a leitura dessas preciosas páginas, entendemos melhor porque Jesus ia para o monte para estar com o Pai e rezar, ia para o deserto para Se encontrar a Si mesmo e mergulhar no oceano infinito do amor do Pai. Percebemos melhor que sem silêncio interior diz-se orações mas não se faz oração verdadeira que leve à comunhão com o Amado, que nos mergulhe na intimidade do amor trinitário, que nos faça contemplativos na ação, na vida. Não no silêncio do convento, do mosteiro, dos claustros, mas no interior de nós mesmos, onde encontramos Deus e o seu amor, onde descobrimos que somos um sacrário divino da sua presença, onde podemos crescer na intimidade com Jesus e com a Trindade.

Uma dona de casa, que nas suas lides domésticas descobre a riqueza e a força deste silêncio, pode ser contemplativa e fazer do dia uma contínua comunhão com o Senhor, várias horas santas na intimidade com Jesus, enquanto passa a ferro, faz as refeições, etc. Um lavrador, em contacto com a natureza, em cima do seu trator ou de enxada na mão, pode ser contemplativo se descobre Deus no seu coração e na natureza que o rodeia e está sempre no esforço amigo de maior comunhão. E assim por diante: o estudante, o médico, o empregado da fábrica, etc. Todos os cristãos que descobrem o valor do silêncio e os seus frutos, a “sua força”, não querem outra coisa, não pensam em viver de outro modo, não desejam mais nada. Estar com o Amado, no silêncio recolhido do coração, fazendo deserto na cidade.

E parece que a vida se torna mais serena, mais feliz, mais alegre, mais pacífica, mais fecunda em dom e em graça, sobretudo na ação apostólica. E o Espírito que está no coração de cada um e de cada uma, nos ajudará a descobrir a graça do deserto interior, a graça do silêncio fecundo, pois no encontro mais permanente com Deus somos mais fortes, mais evangélicos, mais cheios da graça que é dom que nos transforma.

O Espírito, através dessa experiência do “deserto na cidade”, com a “força do silêncio”, nos fará perceber que o mundo é presença do Deus Criador, é lugar sagrado, é lugar contínuo de comunhão com o amor do Pai. E tudo, mesmo o ruído e o barulho, nos pode levar até Ele.

Dário Pedroso, sj

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