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Tomáš Halík pede “um milagre” para “mudar a mentalidade de algumas pessoas, especialmente de alguns clérigos”

De passagem por Portugal, o teólogo Tomáš Halík considera que “há muito boas ideias” no Documento Final do Sínodo e que importa agora saber como “interpretá-lo” e “pô-lo em prática”.

“O Sínodo deve libertar-nos deste clericalismo, de apenas ouvir e esperar”, afirma o sacerdote, numa entrevista ao primeiro episódio da iniciativa “No coração da esperança”, promovida pela Rede Sinodal em Portugal, em parceria com o Diário do Minho, Voz Portucalense, Correio do Vouga, Correio de Coimbra, A Guarda, 7Margens, Rede Mundial de Oração do Papa, Folha do Domingo.

Quanto ao Documento final do Sínodo muitos passaram do entusiasmo à desilusão. Qual é a sua leitura?

Admiro os autores deste documento, porque não foi fácil resumir tantas vozes. Esperava que o documento chegasse dois meses depois da última sessão mas foi no último dia da sessão. Portanto, não é fácil juntar todas estas vozes muito diferentes num só documento. Por isso, admiro essas pessoas. Há muitas políticas boas para o futuro.

Não podemos esperar que o Sínodo tenha a solução para todos os problemas. Não é um concílio. Penso que foi mais como um retiro espiritual para inspirar as pessoas, para dar alguma inspiração, para impulsionar a ir mais longe. Há muito boas ideias no documento do Sínodo. Agora o caminho é interpretá-las e pô-las em prática.

Vai haver pessoas a questionar porque é que não temos todas as respostas do Papa e do Vaticano e até criticarem o Papa e o Sínodo, mas isto é o clericalismo: a expectativa de que tudo será decidido de alguma forma pelas estruturas. Não! Agora temos a responsabilidade de o fazer a partir das bases. O Sínodo deve libertar-nos deste clericalismo, de apenas ouvir e esperar. As pessoas estão desiludidas, devido a expectativas demasiado irrealistas. Para ficarem satisfeitas, tem de haver um equilíbrio entre as expectativas e a realidade e, por isso, não devemos ter expectativas irrealistas, mas sim assumir a nossa própria responsabilidade.

Promover uma transformação das mentalidades foi o que o levou a escrever o seu novo livro. Considera que o Sínodo é o primeiro passo necessário na Igreja para essa renovação?

Antes de mais temos de ouvir e, depois deste silêncio, deste momento contemplativo, colocar para o exterior o que ouvimos, e também a voz do nosso subconsciente, do nosso coração, para juntar tudo e pensar sobre isso no Espírito. Penso que esta conversa no Espírito é tão importante quanto as reuniões sinodais, que são uma forma de oração, de oração contemplativa. Não se trata apenas de uma conferência científica. Esta é a minha sugestão para o Papa para a próxima reunião dos teólogos. Penso que o encontro ecuménico dos teólogos não deveria ser apenas um congresso científico, mas aplicar mais este método de sinodalidade, de ouvir, de refletir, de meditar, de rezar e depois juntar o fruto desta meditação.

Os participantes na iniciativa Párocos para o Sínodo” declararam que a principal resistência ao processo sinodal vem dos bispos e dos padres. Como será possível aplicar as conclusões do Sínodo sem correr o risco de fazer apenas uma transformação estética a uma Igreja clerical que continua a persistir?

Pergunta difícil. Penso que mudar a mentalidade de algumas pessoas, especialmente de alguns clérigos, seria uma maravilha, um milagre. Acreditamos em milagres, mas não os podemos manipular. Podemos rezar, podemos discutir sobre isso, mas não podemos manipular milagres. Por isso, para mudar a mente de algumas pessoas, seria preciso realmente um milagre. Eu acredito em milagres, mas não podemos contar com isto.

 

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