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Da Paciência

«Digo-vos, pois:

pedi e ser-vos-á dado;

procurai e achareis;

batei e abrir-se-vos-á;

porque todo aquele que pede, recebe;

quem procura, encontra,

e ao que bate, abrir-se-á.» (Lc 11, 9-10)

Será a paciência a virtude que nos torna humanos? Será este o alimento mais indicado para a nossa vida, caracterizada por um longo e quotidiano caminhar? E será esta a mais nobre e necessária arte para a construção de uma casa, das relações, de um destino?

Um filósofo italiano, Giorgio Agamben, disse que «a arte de viver é a capacidade de nos mantermos numa relação harmoniosa com aquilo que nos escapa». Muita da nossa vida tece-se de provas que não escolhemos, de tempos que não definimos, de etapas e passagens cujas fronteiras não controlamos. A paciência associa-se frequentemente à dificuldade e até à desilusão. Mas não será a paciência uma arte positiva, destinada a construir e não apenas a suportar, a criar o novo e não somente a aceitar o presente?

Pedir, procurar e bater são movimentos que contêm em si a graça e a exigência da paciência. Pode ser que a paciência advenha da própria oração, e nos ensine a acolher os dons e bênçãos de cada dia, cuja seiva é bem mais fecunda do que todas as nossas projeções.

Precisaríamos, assim, de pedir a atenção, de procurar o discernimento, de bater à porta dos sinais. E o mistério de Deus poderia residir também aí, quando se abrem e alargam os limites estreitos da nossa visão e do nosso desejo.

 

Texto: Rui Vasconcelos

Imagem: Kazimir Malevich, ‘White on White’, 1918.

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