Na Mensagem para a 33ª Jornada Mundial da Juventude, que se celebra a 25 de março, Domingo de Ramos, Francisco pede aos jovens para usarem o discernimento de forma a não terem medo. As palavras que o arcanjo Gabriel dirigiu a Maria servem de mote para a Mensagem do Santo Padre: “Este ano, procuramos escutar, juntamente com Ela [Maria], a voz de Deus que infunde coragem e dá a graça necessária para responder à sua chamada: ‘Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus’ (Lucas 1, 30)”.
Segundo Francisco, da mesma forma que Maria é confrontada com a “imensidão do desígnio divino”, os jovens sentem-se perplexos “face às decisões sobre o futuro, o estado de vida e a vocação”. “E, vós, jovens, quais são os medos que tendes? Que é que vos preocupa mais profundamente?”, interpela o Papa.
Um dos “medos atualmente muito presentes em inúmeros jovens, tanto crentes como não crentes, é o da precariedade do trabalho”, aponta o Sumo Pontífice, indicando o processo de discernimento como uma estratégia para ultrapassar as “dúvidas e medos que se aglomeram no nosso coração”. De acordo com o Papa, o discernimento permite “pôr ordem na confusão dos nossos pensamentos e sentimentos, para agir de maneira justa e prudente”. E explica o processo: “O primeiro passo para superar os medos é identificá-los claramente”, atribuindo-lhes um nome. Caso contrário, “tenderemos a fechar-nos em nós próprios, a barricar-nos para nos defendermos de tudo e de todos, ficando como que paralisados. É preciso reagir! Nunca fechar-se!”, alerta o Santo Padre. E pergunta: “O que é que me bloqueia e impede de avançar? Por que é que não tenho a coragem de abraçar as decisões importantes que deveria tomar?”
“Muitas vezes o obstáculo à fé não é a incredulidade, mas o medo”, afirma, indicando que o discernimento deve “ajudar-nos a superá-los, abrindo-nos à vida e enfrentando serenamente os desafios que ela nos apresenta”. E salienta que, para os cristãos, “o medo nunca deve ter a última palavra”. Deve “ser ocasião para realizar um ato de fé em Deus… e também na vida”, isto é, os cristãos devem “acreditar na bondade fundamental da existência que Deus nos deu, confiar que Ele conduz a um fim bom”.
Mesmo ao nível da vocação, “o discernimento torna-se indispensável”, explica o Santo Padre. “É necessário o silêncio da oração para escutar a voz de Deus que ressoa na consciência”, para que se esteja recetivo à “chamada do Alto” e aberto “ao Outro que chama”. Deus procura “falar-nos através da Sagrada Escritura, oferecer-nos a sua misericórdia no sacramento da Reconciliação, tornar-Se um só connosco na Comunhão Eucarística”.
O confronto e o diálogo com os outros é importante, “não apenas com o guia espiritual”, mas também com “quem nos ajuda a abrir-nos a todas as riquezas infinitas da existência que Deus nos deu”. “Nas vossas dúvidas, sabeis que podeis contar com a Igreja”, assegura Francisco.
“Nunca percais o prazer de desfrutar do encontro, da amizade, o prazer de sonhar juntos, de caminhar com os outros”, reforça o Santo Padre, fazendo mais um pedido: “Não deixeis que os fulgores da juventude se apaguem na escuridão duma sala fechada, onde a única janela para olhar o mundo seja a do computador e do smartphone“. “No futuro também haverá sempre a graça de Deus a sustentar-nos, sobretudo nos momentos de prova e escuridão. A presença contínua da graça divina encoraja-nos a abraçar, com confiança, a nossa vocação, que exige um compromisso de fidelidade que se deve renovar todos os dias”.
“As palavras do anjo descem sobre os medos humanos, dissolvendo-os com a força da boa nova de que são portadoras: a nossa vida não é pura casualidade nem mera luta pela sobrevivência, mas cada um de nós é uma história amada por Deus”, declara.
“O desconhecido, que o amanhã nos reserva, não é uma obscura ameaça a que devemos sobreviver, mas um tempo favorável que nos é dado para viver a unicidade da nossa vocação pessoal e partilhá-la com os nossos irmãos e irmãs na Igreja e no mundo”, explica.
O Papa conclui a Mensagem pedindo aos jovens para que tenham “coragem no presente”. Com a sua força e energia, os jovens devem, na visão do Papa, “melhorar o mundo, começando pelas realidades mais próximas”. Esta coragem deve, também, refletir-se numa maior responsabilização no seio da Igreja: “Desejo que, na Igreja, vos sejam confiadas responsabilidades importantes, que se tenha a coragem de vos deixar espaço”. “E vós, preparai-vos para assumir estas responsabilidades”, avisa o Papa, expressando a sua intenção em ver uma “Igreja em saída, que ultrapassa os seus limites e confins para fazer transbordar a graça recebida”.
“A Jornada Mundial da Juventude é para os corajosos! Não para jovens que procuram apenas a comodidade, recuando à vista das dificuldades! Aceitais o desafio?”, pergunta o Santo Padre.
No culminar do encontro pré-sinodal, que reuniu cerca de 300 jovens, de 19 a 24 de março, no Vaticano, para preparar a próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, é entregue ao Papa um documento que resume as conclusões do encontro na comemoração da Jornada Mundial da Juventude. A Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre em outubro e tem como tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’.