É natural que, enquanto cristãos, católicos, afirmemos a nossa fé em Deus. Que professemos essa fé, rezando e fazendo o bem. Que queiramos incuti-la aos nossos filhos. O que muitas vezes não esperamos é que Deus nos ponha à prova, nos coloque em situações, quase sempre difíceis, em que questionamos seriamente a nossa fé.
Depois de duas gravidezes tranquilas, já mãe de um menino e de uma menina, cheios de vida e alegria, nada fazia prever uma terceira gravidez exigente e preocupante. As primeiras análises revelaram uma combinação de anti-corpos da mãe que podiam ser lesivos ou mesmo destrutivos para o feto, em qualquer momento da gestação. Não havia como fazer um prognóstico com exatidão. Depois das 28 semanas de gravidez, o bebé podia ser retirado e colocado na incubadora. Até lá, a medicina não tinha nada para me oferecer, para além de um acompanhamento constante que permitiria ver se o bebé estava em risco e qual o grau de risco.
O que é que uma mãe, que já ama tanto o seu bebé, pensa nestes momentos? Que Deus a desamparou! À memória vêm-lhe, de imediato, todas as outras mães que perderam os seus filhos durante a gestação, no dia do parto, no pós-parto ou que têm filhos com problemas graves de saúde.
Depois dos primeiros momentos de dúvida e até de medo, nasce aquela esperança sem fim, que só Deus pode dar. As marcações de acompanhamento pré-natal foram feitas de forma extremamente rápida (o que é de enaltecer, tratando-se do Sistema Nacional de Saúde). Fui acompanhada nas três especialidades competentes: imuno-hemoterapia, obstetrícia e diagnóstico pré-natal. Desde a primeira hora que a atitude de todos os médicos foi pró-vida.
A primeira consulta de imuno-hemoterapia foi paradigmática. Depois de uma longa e anímica conversa, termino o pedido de esclarecimentos com a pergunta: o que é que eu posso fazer para proteger o bebé? A resposta foi peremptória: Nada. Se acredita em Deus, confie n’Ele; se não, confie no acaso. Depois de uns minutos de silêncio, o médico, com um sorriso no rosto, insistiu: confie que vai correr tudo bem. E começou a contar-me vários casos de mães com combinações de anti-corpos semelhantes e ainda mais graves em que os bebés nasceram sem quaisquer complicações.
Saí dali convicta de que Deus me estava a pôr à prova e para que eu não desanimasse colocou anjos no meu caminho. Isso mesmo confirmei ao longo da gravidez. Tive sempre dois anjos a acompanhar-me quatro vezes por semana: os médicos de imuno-hemoterapia e de diagnóstico pré-natal. Dois profissionais de saúde excecionais, no cuidado, no humanismo e no carinho que nos dedicaram desde a primeira hora. A Maria Clara nasceu às 38 semanas, no devido tempo, livre de todos os perigos previstos.
Foram meses de muita expectativa. Um tempo de espera confiante, de um novo olhar sobre a vida e o mundo, de aperfeiçoamento da relação com Deus. A Maria Clara é encantadora, cheia de alegria e energia. Uma menina surpreendente, porque Deus é surpreendente.
Elisabete Carvalho