Ana Amasiye
Ana Amasiye é uma expressão que em língua Chewa significa “crianças órfãs”. Mas o livro não é sobre órfãos. Mais bem sobre a “orfandade”, sobre a carência generalizada de um laço fundamental de mútuo cuidado. Ele é fruto das vivências do Autor, ao longo de cinco anos, como missionário em Moçambique. Aí, Paulo Teia, sj foi acolhido como “hóspede” por um povo terno, paciente, contido e fez a experiência de chegar, de se tornar cidadão residente, um amigo, benfeitor, pai. O livro percorre o teclado de dois instrumentos, ambos de sopro e luz, fotografia e texto. O texto assumiu a paternidade diante da imagem abundante, como em Moçambique, como em África. Antes da imagem havia a palavra. Uma Obra organizada segundo três entradas de leitura, sem ordem fixa. A primeira — “Da Misericórdia” – dedicada ao antídoto da carência que afeta o “órfão”. Porque a misericórdia é a única forma de galgar e refazer o caminho de compaixão e solidariedade que se esfumou na memória de um povo. Um querer fazer barro, com as mãos de todos, destino comum, natureza humana. A segunda – “Dos Elementos” – evidencia os elementos que constroem vida e sem os quais há morte: Água, Terra, Fogo e Ar. Quatro elementos… quatro estações… quatro lados de uma mesma figura. A terceira – “Dos Afetos” – um poema que é recolha de afetos e dizeres que apenas o coração conhece. Não podemos viver sem a sensação de cada experiência, sem a memória de enredos vividos. Cada vida, célula dum corpo que foi, e é, Criação. Estas três partes confluem num desdobrável que migra do livro e se faz peregrino. Torna-se insistência, um bater de porta em porta, tormento ao olhar adormecido, colo que o acolha.