Ressonâncias do Jubileu da Esperança – parte 1

Quando embarcamos rumo ao Jubileu dos Jovens 2025 em Roma, pensamos que iriamos fazer uma viagem. Não fazíamos ideia de que viveríamos uma transformação. Partimos de Chaves ao fim do dia, com a alma cheia de expectativas e as malas carregadas de planos. O que não sabíamos é que regressaríamos com o coração transbordante de eternidade.

A peregrinação começou antes de Roma. Em Lourdes, a água gelada acordou-nos para a fé. Em Narbonna e Avignon, vimos beleza nos pequenos gestos: um sorriso, um canto de rua que parecia oração. E, em Florença, parecia que a própria história tinha saído das páginas e caminhava ao nosso lado.

Mas foi ao chegar a Roma que tudo mudou. Roma é caos que dança, pedra que fala, história que respira. E nós, seres tão pequenos, deixámo-nos deslumbrar. Entramos em basílicas onde nos sentimos formigas num cosmos de mármore. Sentimo-nos ricos. Não de dinheiro, mas de espírito, pois tivemos a honra de atravessar quatro portas que só são abertas de 25 em 25 anos – as Portas Santas de São Pedro, São Paulo Fora-de-Muros, Santa Maria Maior e São João de Latrão. Sentámo-nos em praças, onde as fontes pareciam sussurrar segredos antigos. Fomos ainda a Assis… Que cidade tão histórica, tão bela, tão deslumbrante! Vimos o corpo de Carlo Acutis, ali mesmo à nossa frente, um jovem como nós que tanto fez em tão pouco tempo; rezámos a São Francisco de Assis e a Santa Clara. Entre estas visitas, um momento que nos marcou de certa forma… – quando entramos na Basílica de Santa Maria Maior, sentimos logo a presença do tão querido Papa Francisco, que nos deixou há tão pouco tempo. No momento que passamos pelo seu túmulo recordámos todas as suas palavras que nos deram forças e nos incentivaram a seguir o nosso caminho com fé e esperança. Entre tantos sentimentos à flor da pele, vivemos entre um mar de línguas, cores, cânticos e risos que, de alguma forma, formavam uma só melodia.

O pavilhão onde ficamos não oferecia luxo – um chão de cimento duro, filas longas para o banho (banho tão gelado a ponto de nos fazer pensar quem éramos e o que estávamos ali a fazer), refeições simples, mas com muito significado. Mas foi ali que descobrimos a riqueza da partilha: partilhámos água, histórias, silêncios. Na escassez material, encontramos abundância espiritual. Porque quem tem um coração disponível, nunca está verdadeiramente só.

Durante o dia, fomos desafiados pelas dores de pernas, pés cansados e um calor abrasador, no entanto, embalados por vigílias e incendiados por hinos.

Nunca vamos esquecer o momento em que o Papa Leão XIV nos apareceu de surpresa. A emoção mergulhou em nós. Ficamos totalmente perplexos e paralisados com a magia e a fé que pairava em todos os rostos jovens ao nosso redor. Aquele dia nunca vai sair de nós; nem nós dele. O Santo Padre veio dizer-nos e mostrar que cada jovem é uma nota insubstituível na sinfonia divina. O silêncio daquela multidão, naquele instante, era mais eloquente do que mil palavras.

Visitámos monumentos que nos tiraram o fôlego: o Coliseu, iluminado ao entardecer, parecia um coração antigo ainda a bater. A Basílica de São Pedro, especialmente esse, fez-nos sentir como partículas de pó num raio de luz. Mas mais do que as pedras e os lugares, o que ficou foram os rostos: os amigos improváveis que fizemos, as raízes de amizade que criámos entre nós, os gestos sem língua comum, só sorrisos que diziam mais que qualquer outra coisa.

À noite, caíamos exaustos, mas felizes. O corpo pedia descanso, mas a alma queria mais um dia. Lá fora, o som das vozes em tantas línguas embalava-nos com a certeza de que estávamos a viver algo único, mas algo especial.

No regresso a casa, olhamos o nosso reflexo na janela do autocarro e vimo-nos iguais, a mesma pessoa, o mesmo rosto, mas acesos por dentro. Trazíamos saudades da pizza com sabor a pressa, da água com sabor duvidoso, mas que tanto nos refrescou, da eterna bênção do Papa, das suas palavras carinhosas para nós, jovens. Mas mais do que isso, trazíamos um compromisso: continuar o Jubileu, trazê-lo a todos aqueles que não tiverem a graça de o viver de perto. Sermos testemunhas vivas da fé que nos incendiou. Amar onde antes só julgávamos. Servir onde antes hesitávamos.

Perguntam-nos se valeu a pena… Valeu cada passo, cada lágrima, cada gargalhada. Repetiríamos? Mil vezes. Porque há viagens que distraem e há peregrinações que transformam. Nós fomos transformados.

E hoje, quando o dia a dia tenta empalidecer estas memórias, fechamos os olhos. Nesses murmúrios, ainda conseguimos ouvir a multidão a gritar em cem sotaques diferentes: “Esta é a juventude do Papa!”. Ainda sentimos o chão romano a vibrar aos nossos pés doridos. Ainda vemos o sorriso e o olhar emocionado do Papa, cheio de confiança no nosso futuro.

O Jubileu ensinou-nos isto: onde a juventude se encontra com a fé, o impossível perde o “im”.

E, se um dia nos faltarem as palavras, bastará lembrarmo-nos de que um milhão de jovens, vindos de mais de 150 países, se reuniram num só lugar para celebrar Jesus, porque só Ele é capaz de tornar possível algo tão grandioso como isto que vivemos.

José Daniel e Inês Lopes (MEJ Chaves)

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