Na véspera da Solenidade de Todos os Santos, somos chamados a dar graças pela vida e exemplo de todos aqueles que, no quotidiano da sua vida, foram procurando morrer para si mesmos e abrir o coração àquilo que Deus lhes foi pedindo. Esta abertura de coração pressupõe a atitude fundamental que possibilita a aventura da santidade: a escuta. Para escutar bem, sem estarmos distraídos com o ruído das coisas ou, mais ainda, com o ruído de nós mesmos, precisamos dispor-nos à presença do outro que está à nossa frente, à sua voz, ao seu rosto, aos seus apelos.
Percorrer o caminho da santidade não exige fazer quilómetros de um lado para o outro, com o desejo de mudar o mundo nos lugares onde percebemos ser necessária a presença amorosa de Deus. Já nos demos conta que, afinal, o caminho da santidade pode estar à distância de um abraço, de um aconchego, ao som de uma palavra que conforta, no calar palavras que ferem e dividem?
O caminho da santidade é muito curto, pois começa dentro de nós e, pouco a pouco, vai-se espalhando à nossa volta, como óleo perfumado.
Os grandes santos, que veneramos nos altares, são pessoas que fizeram caminhos concretos de amor próximo, que encontraram à sua volta, naquilo que verdadeiramente podiam transformar, um espaço de realização do reino dos Céus. Não são os santos que conhecemos na nossa vida aqueles que nos mostraram ou mostram que o outro é mais importante que eu? Que a parte do mundo que me toca evangelizar é a rua onde vivo, a casa onde moro, o lugar onde trabalho?
Amar a Deus tem o mandamento semelhante, que é amar o próximo. Que saibamos ter a coragem e a humildade de acolher o convite da proximidade.
António Valério, sj