O Lugar
O Lugar é um conto, também adaptado para teatro, no qual a mulher e o homem se encontram no início de tudo. A sua relação humaniza o espaço, tornando habitável o “não-lugar”, o inabitável. A sua relação é geradora de vida, pois a humanização do espaço é, sempre, uma acção criadora que faz a terra “produzir os seus frutos”. A sua relação é geradora de vida humana, para ser acolhida e respeitada. Ao longo do texto, de uma beleza serena e luminosa, perpassam também as tensões inevitáveis na relação entre homem e mulher. Não implicam rupturas no tecido da relação, mas assinalam as mágoas, todas as grandes mágoas que a incompreensão sempre deixa e precisam de ser saradas com a força do amor. O pano de fundo de O Lugar são os três primeiros capítulos do Génesis, o livro bíblico dos inícios, da criação. Não é por acaso. Estes três primeiros capítulos, de facto, tecem toda a trama do lugar inicial do humano, com o aparecer da vida e, sobretudo, com a criação do homem, como homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. É esta imagem e semelhança que faz da relação entre homem e mulher uma relação criadora, capaz de humanizar o deserto, o deserto físico mas, mais ainda, o deserto interior da solidão, do não-lugar inicial de cada humano urgindo a presença do outro, criadora da possibilidade de relações que constituem a tessitura do humano. Ilustrado por Margarida Ramos, O Lugar ganha uma dimensão visual inesperada, profunda, que convida a parar em cada página, apreciando a cumplicidade entre imagens e palavras tão felizmente conseguida nesta obra. Com prefácio de Joaquim Azevedo.