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Na derrota do Estado Islâmico

A Síria e o Iraque viveram anos trágicos às mãos dos vários jihadismos em confronto na região e também às mãos de governos ditatoriais ou corruptos e sectários. Nos últimos meses, porém, começou a ser evidente que o Estado Islâmico – o bando jihadista mais notório e bem sucedido nas últimas décadas – estava a caminho do fim, enquanto poder de facto, no terreno. A tal ponto que, nos últimos dias, os governos da Síria e do Iraque puderam proclamar vitória na luta contra o Estado Islâmico – e o Irão veio reivindicar a parte de leão nessa vitória; com alguma razão, diga-se de passagem, pois se alguém tirou vantagem das mudanças cataclísmicas ocorridas no Médio Oriente foi, além da Rússia, a potência persa.

No terreno, entretanto, as populações deslocadas pela guerra estão, em muitos casos, a ser silenciosamente substituídas por outras: na Síria, as milícias shiitas – financiadas pelo Irão e vindas do Iraque, do Irão, do Afeganistão – ocupam territórios outrora de maioria sunita e por lá irão ficar, com armas e bagagens; no Iraque, por seu lado, os cristãos, uma das minorias que mais sofreu com a guerra, encontram imensos obstáculos quando tentam regressar às aldeias e vilas de onde o Estado Islâmico os forçou a fugir.

É de prever que muitas das comunidades cristãs desenraizadas pela guerra – parte delas mais antigas do que as mais antigas existentes na Europa – nunca mais se consigam recompor nem recuperar as aldeias e vilas onde viveram até 2014. Assim está a acontecer na planície de Nínive, uma das poucas regiões do Iraque onde, antes da chegada do Estado Islâmico, ainda se mantinha uma presença significativa de comunidades cristãs.

Quase invisíveis e praticamente ignorados durante a guerra, os cristãos do Iraque e da Síria ficarão ainda mais ignorados e invisíveis agora que se anuncia a «paz». E, assim invisíveis, poderão extinguir-se «em paz», enquanto no Ocidente nos entretemos a dar caça à islamofobia e a outras fobias mais imaginárias do que reais, mas muito do agrado da intelectualidade reinante.

Elias Couto

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