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Dizem que é Natal

Resta saber que Natal. O das ruas e lojas iluminadas com a música dos “Jingle bells! Jingle bells!” (em inglês é mais cosmopolita)? O dos hospitais para crianças, com palhaços e tudo (“mas as criancinhas, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?”)? O dos “sem-abrigo” com a consoada do bacalhau, bolo-rei e rabanadas para descargo de consciência da sociedade (“Coitadinhos! Está tanto frio na rua!”)? O das terceiras idades, custeado pelas câmaras municipais, a adocicar-lhes a vida na cata dos votos em futuras eleições? O das Corporações de Bombeiros, aproveitando a quadra natalícia para, através dos seus presépios, angariar alguns fundos para as suas necessidades? O das televisões, viradas sobre si mesmas, cheio de “glamour” (pronuncie-se à inglesa ou à francesa, dá o mesmo) e de pessoas “chiquérrimas” (bonita expressão!), vestidas a condizer e mostrando as suas importâncias (julgam)?

Impressionou-me a forma despudorada como uma televisão generalista vendeu em pleno telejornal um produto de possíveis prendas de natal, tanto para adultos como para crianças. Para adultos, vá que não vá (são adultos e vacinados), mas para crianças, senhores! Já não basta a dificuldade que os pais têm em contrariar o “maria vai com as outras” das roupas de marca, das “play-stations” e dos ídolos dos filhos e das filhas; agora é a própria televisão a “vender” aquilo que é puro anúncio publicitário, transformado em notícia longa de telejornal sob a capa de progresso tecnológico. Valha-nos Deus!

Temos hoje um tipo de natal “self-service” em que cada um escolhe o seu. Mas a escolha não é indiferente nem aleatória; diz muito de nós próprios, do ambiente cultural em que vivemos e da sociedade onde estamos inseridos. Ocorre-me parafrasear o ditado popular: “Diz-me como está a ser o teu natal e dir-te-ei quem és”. Cada um de nós vive o natal pelo prisma com que o vê, o olha e sobretudo o sente.

O meu nasce de e com Alguém que entra pequeno, numa terra pequena, num povo pequeno e numa história pequena que se tornará grande. Nunca uma criança foi tão esperada e desejada, como nunca uma criança viria a marcar tanto a vida dos homens e dos povos e faria com que a História Universal nunca mais voltasse a ser a mesma. Em Belém, terra pequena e sem importância, nasce essa criança, também ela aparentemente pequena e insignificante, mas que viria a revelar-se portadora de uma realidade em que a minha vida e a minha história pessoal ganham sentido e significado. É este natal que chegou até nós como presente, carregado de futuro. Para mim, a verdadeira “prenda” é este “Presente” oferecido gratuitamente à humanidade. Pelo menos, é este natal que procuro celebrar e viver nesta quadra natalícia. Boas Festas!

 

A. da Costa Silva, sj

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