Quando se vive a fé cristã no meio de quem não lhe dá importância ou até a menospreza, é preciso tê-la devidamente fundamentada perante a própria consciência. É uma situação em que não basta ao crente ter fé; é preciso que a sua fé seja inteligente. Para isso, importa estar atento ao espaço da ausência da fé que existe na sociedade. Convém mesmo encontrar maneiras de comunicar com ele. Certamente a fé cristã pode interrogar, iluminar, contrastar. Mas também tem ocasião de aprender e amadurecer. Chega a ficar mais esclarecida a respeito de si mesma. Trata-se dum esforço em que é possível avançar conjuntamente na questão do sentido da existência.
Recorde-se o que disse Carlo Maria Martini ao institucionalizar um caminho de diálogo com os não crentes quando estava à frente da diocese de Milão: «Penso que cada um de nós tem dentro de si um não crente e um crente, que falam entre si, se interrogam mutuamente, lançam continuamente perguntas afiadas e inquietantes um ao outro. O não crente que existe em mim importuna o crente que existe em mim e vice-versa».
‘A Fé e o não Crer’ é uma reflexão fundamentada sobre a relação inevitável entre a fé católica e a descrença: interrogações e dúvidas fazem parte deste diálogo nem sempre agradável, mas sempre necessário.