«Diante do Coração de Cristo, peço mais uma vez ao Senhor que tenha compaixão desta terra ferida, que Ele quis habitar como um de nós»1. (Papa Francisco)
Hoje convido-te a fazer um exercício… Certamente, nos últimos dias terás visto as notícias que chegam quase sem aviso ao teu telemóvel ou ao ecrã do teu computador. As redes sociais «bombardeiam-te» com notícias, algumas muito pesadas, dramáticas, como se saídas de uma produção cinematográfica atravessada pela morte, pelo medo, pela destruição, pela fome e pelo conflito. Outras, ao contrário, terão sido mais alegres e festivas, deixando ver um rosto mais humanizador, mostrando-te pessoas que encarnam atitudes de paz e de amor, que constroem e colaboram. A nenhum de nós parece coerente este dualismo, a tensão a que as imagens e as notícias nos expõem diariamente.
Coloquemos diante de nós uma imagem de Cristo na cruz e detenhamo-nos um momento diante d’Ele, fazendo-nos presentes à máxima expressão de amor que a humanidade alguma vez conheceu… ao próprio Deus crucificado por amor a ti e a mim, por amor a todos. Diante desta cruz, convido-te a voltares às tuas redes sociais, a umas e outras, sem as selecionares, assim como aparecem… Contempla-as com toda a atenção. O mundo mais próximo, dos teus amigos e família, e o mais distante da tua vida concreta, os conflitos, a morte e a fome noutros lugares. Contempla com todos os teus sentidos, a vista, a imaginação, o ouvido, com todo o teu coração o que se passa no mundo… e imagina que o Senhor na cruz o contempla contigo… e te diz: «Aqui estou por ti e por todos; e por este mundo que sofre e geme dores de parto (cfr. Romanos 8, 19-25). É um mundo que amo e que espera a tua colaboração e a de todos os filhos do meu Pai, para que o meu amor chegue a todos nas suas dores, até à manifestação do Reino…». Deixa ressoar no teu coração estas palavras, como ditas para ti.
Iniciaste o terceiro passo do Caminho do Coração, «Num mundo sem coração», que te convida a contemplar o mundo na sua diversidade de realidades, descobrindo aquelas realidades que te dão vida e as que são caminhos de destruição e morte. Descobrir é tirar o véu às coisas, desvendar o seu verdadeiro sentido… Para quê? Para, conhecendo-o, tomar posição, pois não somos indiferentes à realidade. Somos colaboradores da humanização do mundo ou cúmplices, em sentido oposto. As nossas decisões têm impacto no mundo e a nossa falta de decisão também. Como ressoa isto em mim?
«Assistindo a sucessivas novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros Países, ou a simples lutas de poder em torno de interesses instalados, podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração. (…). Ver as avós a chorar sem que isso se torne intolerável é sinal de um mundo sem coração».2
«Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração. (…). O nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social».3
«Porque “os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem” (Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 82). Perante os dramas do mundo, o Concílio convida-nos a regressar ao coração».4
Que posição tomo? O Senhor conta com a tua colaboração para esta missão de humanização…
Rezemos por este mundo, pedindo ao Senhor… «Que derrame os tesouros da sua luz e do seu amor, para que o nosso mundo, que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconómicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração».5
1 Carta Encíclica do Santo Padre Francisco sobre o amor humano
e divino do Coração de Jesus Dilexit nos, outubro 2024, n.º 31.
2 Dilexit nos, n.º 22.
3 Dilexit nos, n.º 28.
4 Dilexit nos, n.º 29.
5 Dilexit nos, n.º 31.
Bettina Raed | Vice-diretora internacional da Rede Mundial de Oração do Papa
(In Mensageiro do Coração de Jesus, maio de 2025)