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Sónia Neves: Sínodo é caminho de alegria em Igreja de portas abertas

A jornalista Sónia Neves considera que a sensibilidade feminina traz à Igreja um especial acolhimento das diferenças. Sublinha a importância da comunicação no processo sinodal e assinala a necessidade de “espaços de participação em que as pessoas possam ser escutadas”. É o episódio 7 da iniciativa “No coração da esperança” da Rede Sinodal em Portugal.

Apresentamos aqui mais uma etapa da iniciativa “No coração da esperança”, da Rede Sinodal em Portugal. É o episódio numero 7 que dá continuidade à produção de conteúdos sinodais, nesta fase de receção do Documento Final do Sínodo. Desta vez a entrevistada é a jornalista Sónia Neves, diretora do jornal Correio de Coimbra, o semanário daquela diocese.

P: Após três anos de um caminho sinodal que envolveu milhões de pessoas e de duas sessões do Sínodo dos bispos em Roma que leitura faz do Documento Final do Sínodo?

R: “Este documento traz-nos aqui uma perspetiva muito própria daquilo que é o sonho do Papa Francisco para um novo estilo de Igreja. Eu recordo as palavras do Papa na altura da JMJ em 2023, em Fátima, olhando para a Capelinha das Aparições e dizer, mais ou menos por estas palavras, que gostava que a Igreja fosse como a capelinha das Aparições. Sem portas. É assim que eu vejo este novo estilo de Igreja, sem portas. Uma Igreja que, aberta ao mundo, aberta aos outros, com todo o caminho que já fez com estes 2000 anos de história, mas como Igreja que está, além de portas abertas, com uma mentalidade de olhar para o mundo e de responder àquilo que o mundo precisa nos dias de hoje. E é isto que eu acho que o caminho sinodal nos traz e que este documento nos vai mostrar.

Repare-se que o documento foi elaborado por todos aqueles que estiveram na Assembleia, por tantos e tantos contributos de comunidades, de grupos, de movimentos, com tantas diferenças, vivências diferentes, culturas diferentes, geografias diferentes. Tudo isso culminou neste documento que agora é para a Igreja Católica Universal. É um desafio estas portas abertas, porque nestas portas abertas temos que incluir todos. Estas diferenças estão ali todas incluídas. E neste sentido, este novo estilo de Igreja, ao mesmo tempo e pensando neste documento, faz-me pensar nas primeiras comunidades cristãs. Reuniam-se, um bocadinho todas a medo. Reuniam-se com aquilo que tinham de melhor, diferentes, um que foi chamado, o outro que soube, mas eram todos diferentes. A saber pouco, mas a quererem saber mais. Eu acho que a Igreja neste momento está nesta fase. Nestas diferenças todas, mas com um ponto em comum muito interessante, em que as comunidades cristãs eram conhecidas: ‘Vede como eles se amam’. É isso que faz falta a esta nossa Igreja, que é mostrar ao mundo. Afinal, estamos vivos, estamos aqui, servimos e amamo-nos. À semelhança de Cristo, que ama a sua Igreja.

E depois há outro ponto que eu gostava aqui também, porque em família é assim: quando nós abrimos as portas da nossa casa, abrimos com tudo à vontade, de querer acolher, mas também com uma alegria de termos a casa preparada para receber quem vem. E é uma coisa que eu acho que nós temos muito caminho a fazer em igreja, que é o caminho da alegria. Nós temos a nossa Igreja de portas abertas para acolher todos. E o Sínodo traz-nos isto também, a alegria que muitos sentiram, os que participaram naturalmente na assembleia sinodal, de estarem juntos. A alegria de partilharem aqueles momentos, de partilharem as suas experiências, de testemunharem. Esta alegria tem que ser passada cá para fora. Esta alegria de acreditarmos no mesmo, e sermos felizes na nossa fé. Estas portas abertas também nos vêm dar este compromisso de passar aos outros a alegria”, afirmou Sónia Neves.

P: O Papa tem insistido e dado o exemplo em algumas nomeações, no sentido de que seja dado um maior protagonismo às mulheres na Igreja. A sua sensibilidade feminina como vê o processo sinodal que entra agora na sua fase de receção nas comunidades de todo o mundo?

R: “Eu vejo com muita alegria, naturalmente. Quando nós vemos uma mulher a ter a mesma dignidade que um homem, seja na sociedade seja na Igreja, para mim tem que ser uma alegria. Porque nós somos todos iguais e criados à imagem e semelhança de Deus. Portanto, porquê haver estas diferenças? A mulher é tanto, ou mais, ou menos, é igual ao homem. Portanto, na sua diversidade, nesta diferença que eu falava, a mulher tem que ser acolhida. E a sensibilidade feminina tem de trazer à Igreja esta alegria que eu falava, este acolhimento das diferenças.

E depois todo este caminho ao nível sinodal, também temos que ver que teve mão feminina. Eu diria se calhar mais do que mão. Teve pensamento, teve acolhimento, teve serviço. Enfim, tantas foram as mulheres que estiveram envolvidas neste processo sinodal. E não falo só nas assembleias sinodais. Vejamos todas as comissões sinodais, todos os grupos que se foram reunindo e o conteúdo que foi, tendo juntado para todos os documentos que chegaram ao Vaticano, para chegarmos depois a este documento final, tiveram lá mulheres. E que bem, e ainda bem que as tiveram. Então este rosto feminino traz muitas vezes, ou quase sempre, posso eu agora aqui dizer, uma visão diferente da Igreja. Um acolhimento diferente.

Nesta perspetiva, não podemos baixar os braços. As comissões sinodais têm de olhar para este documento, que agora receberam, como algo a fazer alguma coisa. Porque estas comissões foram criadas, foram sonhadas. Houve tanto trabalho feito, que agora não pode ficar sem horizonte. E este horizonte, este documento, é para ser trazido para as comunidades. Na minha perspetiva também, estas comunidades precisam destas comissões sinodais para haver aqui um ritmo, para ser dado a conhecer o documento final. E que não olhemos só para o senhor padre, que tem ou que está à frente de uma comissão sinodal. Acho que os leigos aqui têm o papel de conhecer o documento, de ter informação sobre o que é a sinodalidade, este caminho conjunto. Porque os leigos têm de formação, podem ser braços direitos dos senhores padres, de todos os clérigos, e só assim é que nós conseguimos caminhar em conjunto. É formando aqui equipa. É assim que eu vejo o trabalho em Igreja, é fazendo equipa. Não somos mais nem menos uns do que outros. Só em conjunto, este caminho conjunto fará sentido. Todos dando um bocadinho de si, estando ao serviço nesta formação importante para os leigos.

E há outra coisa que eu acho que é importante, que é: sendo leigos batizados, muitos de nós crismados, encontrarmos um espaço na Igreja para o nosso compromisso. E aqui falo muito, por exemplo, dos jovens. O Papa falava que os jovens fazem o crisma e depois é a debandada. Mas o que é que a Igreja tem para lhes oferecer? No seu caminho catequético, é preciso que tenham a experiência de Deus, a experiência da fé. E nesse sentido, os leigos, seja na catequese, seja em animação de grupo de jovens, seja nas celebrações, são precisos para que os jovens percebam a alegria do compromisso. Esta alegria também feita em comunidade. Porque se um jovem, ou se qualquer leigo, entra numa comunidade em que não se sente acolhido, em que não se sente confortável, em que sente uma comunidade triste, ninguém quer ali estar. É um caminho que pode ser feito, uma mentalidade que pode ser aqui mudada. É preciso haver espaço para isso. Esta formação dos leigos, volto a dizer.

A outra coisa, é haver aqui espaços de participação em que as pessoas possam ser escutadas. Durante o caminho sinodal isso foi acontecendo, mas eu acho que isso não pode ser perdido. Porque as pessoas, ao escutarem-se umas às outras, há aqui uma riqueza muito grande. E se vão-se sentindo confortáveis e é necessário à Igreja, que pretende ser de portas abertas e que acreditamos que é esse o caminho, precisamos de nos escutar uns aos outros. Essa é a riqueza da partilha. É a riqueza da melhor mensagem que nós temos”, declarou a jornalista.

P: Que especial contributo pode dar a comunicação neste tempo de aplicação das conclusões do Sínodo nas comunidades em Portugal?

R: “Pegando nesta minha última expressão, que é, a Igreja tem a melhor mensagem a comunicar. Só que às vezes não a sabemos comunicar. Nós sabemos que esta é a melhor mensagem. “Amai-vos uns aos outros”, é a mensagem da Igreja. Por que é que nós não a comunicamos? Será que não a vivemos? Será que nos é difícil mostrar ao outro que sentimo-nos felizes neste serviço que é amar o outro? Então o que é que nos falta? Falta-nos sentir esta necessidade de evangelizar? Ficamos aqui num ponto em que a comunicação precisa de ser aqui mais do que uma necessidade, precisa de ser um privilégio muito grande da Igreja. Precisa de ser uma aposta. E quando se fala em comunicação, eu não estou só a falar nos gabinetes de comunicação, não estamos só a falar nos meios de comunicação. Eu falo em comunicação de todos. Qualquer catequista, qualquer animador de grupo de jovens, qualquer sacerdote, do alto de uma homilia, precisa de saber comunicar. Todos nós sabemos comunicar. Uns bem, outros mal. Todos nós precisamos de saber comunicar melhor. Sem dúvida nenhuma.

Neste sentido, e eu acho que também aqui uma grande mais valia neste caminho que a Rede Sinodal está a fazer, e esta grande parceria com vários órgãos de comunicação social, para dar aqui a entender que os órgãos de comunicação social são um grande poder, um poder em Igreja, mas também aqui unidos, que é aqui uma grande mais valia de mostrar este caminho em conjunto, aqui também nesta parceria, mas de mostrar como a comunicação pode ser o fator chave de chegar a estas conclusões do Sínodo, de chegar a todos. Até de haver aqui, através destes órgãos de comunicação social, a formação necessária, do que é isto do Sínodo. Porque para muitas comunidades, o que é uma pena, a meu ver, ainda é algo muito distante. É algo que aconteceu no Vaticano. Ainda não chegou às comunidades. Então, que seja também pela comunicação social, e por esta aposta de esclarecer, de levar esta informação do Sínodo, desta Igreja nova, deste novo estilo de Igreja que o Papa nos pede. Que seja também por estas parcerias e por este trabalho em rede, de chegar a todos, todos, todos”, concluiu.

Sónia Neves é jornalista e trabalhou durante 14 anos na Agência Ecclesia. Desde 2024, é diretora do jornal “Correio de Coimbra” que é o semanário da diocese de Coimbra. Pertence à Rede Sinodal em Portugal, colaborando na iniciativa “No coração da esperança”, uma parceria com o Diário do Minho, Voz Portucalense, Correio do Vouga, Correio de Coimbra, A Guarda, 7Margens, Rede Mundial de Oração do Papa e Folha do Domingo.

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