Entre os dias 23 e 26 de maio, milhões de cidadãos europeus foram chamados a exercer o seu direito de voto, escolhendo os candidatos que irão ocupar os 751 lugares do Parlamento Europeu, de 2019 a 2024. Mas, no conjunto dos 28 países da União Europeia (UE), apenas cerca de metade disse presente.
Segundo os dados do site oficial do Parlamento Europeu, a participação nestas eleições foi de 50,94 por cento. O número não é propriamente animador, mas ainda assim a afluência às urnas foi superior às eleições anteriores, em 2014 (42,61 por cento).
Em Portugal, apenas 31,40 por cento dos cidadãos eleitores foram exercer o seu direito de voto no passado domingo. E destaco a palavra apenas, porque realmente me parece um número mesmo muito baixo, que não deixa uma boa imagem dos portugueses em termos de cidadania. Este ano houve uma percentagem de votantes inferior à registada em 2014 (33,67 por cento).
Vendo o conjunto dos 28 países, Portugal ocupa o quinto lugar na lista de nações com menor taxa de votação. Apenas na República Checa, na Eslovénia, na Estónia e na Croácia a participação foi inferior à portuguesa. No lado oposto da lista temos a Bélgica e o Luxemburgo, com uma afluência às urnas de 88,47 e 84,10 por cento, respetivamente.
A disparidade é grande e estes números devem fazer refletir aqueles que não foram votar e os candidatos e responsáveis dos países, que não conseguiram mobilizar a população, no sentido de exercer o seu direito de voto. Os argumentos para a fraca participação dos eleitores portugueses dividem-se, por exemplo, entre o bom tempo, que levou muitos a passar o dia nomeadamente na praia; a existência de outros eventos, de índole familiar ou públicos, no mesmo dia; o desinteresse pela política; ou a não identificação direta com as instituições europeias. Nem o apelo do Presidente da República, na véspera e no próprio dia das eleições, incentivando à participação no ato eleitoral, fez a maioria dos portugueses mudar de opinião.
Enquanto cidadã portuguesa, que exerci o meu direito de voto, sinto-me triste por Portugal apresentar uma taxa de abstenção tão elevada nestas eleições. Afinal, fazemos parte da União Europeia e somos cidadãos europeus. E, mais ou menos diretamente, todos usufruímos do que a Europa nos dá. Não andamos em vias de comunicação construídas com recurso a fundos europeus? Não percorremos espaços públicos que também beneficiaram do dinheiro da UE? Participámos, ou conhecemos alguém que tenha participado, em programas de intercâmbio dentro do espaço europeu? Candidatámos algum projeto nosso a fundos europeus, ou conhecemos alguém que o tenha feito? E as perguntas podiam continuar…
Estamos na União Europeia e podemos tirar proveito disso, mas também não podemos esquecer os nossos deveres enquanto cidadãos europeus, nomeadamente o de participar nas eleições para o Parlamento Europeu. Afinal, as decisões que aí são tomadas vão ter consequência na vida de todos nós… E quem não for votar não tem argumentos para se queixar dessas mesmas decisões. Se, por algum motivo estamos descontentes, temos como manifestar o nosso descontentamento. Mas não através da abstenção.
Lembremo-nos que votar é um direito, mas também um dever. E nós os cristãos não nos esqueçamos que «a submissão à autoridade e a corresponsabilidade pelo bem comum exigem moralmente o pagamento dos impostos, o exercício do direito de voto, a defesa do país» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 2240).
Quando vamos votar, importa que percebamos que o sentido do nosso voto deve ter em consideração a salvaguarda de valores fundamentais da identidade cristã europeia, como o direito à vida, a família, o acolhimento do estrangeiro, ou a paz, entre outros.
Ainda tenho esperança que o cenário comece a mudar… e que, em futuras eleições, os dados da abstenção não me façam ficar novamente triste.
Cláudia Pereira