O mês de novembro oferece aquilo que, a meu ver, nenhuma estação do ano consegue oferecer. Não nos dá a força da primavera, a cor do verão, nem o desejo de aconchego do inverno. O outono, que conhece no mês de novembro o seu ponto alto, tem um misto de despedida nostálgica e fria beleza. Dias frios, em que precisamos de estar protegidos com gorro e cachecol, e, ao mesmo tempo, temos à nossa frente uma paisagem de céu azul e sol que nos aquece o rosto. Vemos as árvores a perderem as suas folhas, a prepararem-se para o rigor do inverno, a despedirem-se de nós numa radiante beleza de tons de fogo.
O outono é um tempo de despedida, um “até já” que antecede uma fria ausência, uma exigente nudez. Mas não o faz de forma revoltada. Parece que a natureza insiste em não se ir embora de qualquer forma; diz um adeus jogando a sua última genial cartada que nos deve fazer pensar nalgumas coisas:
– que a vida tem derrotas, despedidas e ausências, sem com isso perder a sua força e a sua beleza;
– que a dureza de um inverno é antecedida por uma capacidade de invencível;
– que as árvores se despedem vestidas de fogo, para depois renascerem vestidas.
E a liturgia da Igreja sempre soube acompanhar estes tempos e ritmos do mundo.
Novembro, mês das almas, de todos os santos, dos fiéis defuntos, de Cristo Rei e Senhor do universo… Celebrações fortes, explosivas na sua centralidade, que irradiam a beleza da nossa fé. Tal como a natureza, também a vida e, obrigatoriamente, a fé conjugam de forma extraordinária o ciclo da morte e ressurreição. Pena e glória, tristeza e esperança, solidão e proximidade. Porque Deus não deixa que os nossos outonos sejam sombrios, mas convida-nos a encontrar neles o rosto do seu filho Jesus, o sol que consegue aquecer qualquer um dos nossos dias mais frios.
António Valério, sj