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Leão XIII, Francisco, Leão XIV

Entre 1750 e 1850, a Europa sofreu uma revolução dos meios de produção que atirou milhões de homens, mulheres e crianças(!) para dentro de minas, fábricas e similares, trabalhando à volta de 16 horas diárias e usufruindo de salários que os mantinham no limiar da fome absoluta e em casebres mais próprios para animais.

Esta situação comoveu várias pessoas de boa vontade, que escreveram sobre como se poderia obviar a tal miséria, por um lado, e à extrema resistência que os detentores de fábricas, minas, etc., tinham em lucrar menos para que os miseráveis que trabalhavam para eles acedessem a condições de vida próprias de seres humanos.

Em meados do século XIX, Karl Marx e Engels começam, também, a escrever as suas ideias, mas com uma grande diferença. Marx dirá que não basta escrever teorias. Com o seu grande amigo Engels, escreverá sobre como se conseguirá que todos vivam segundo as suas necessidades. Marx dirá que a história da humanidade tem avançado no meio de lutas sucessivas entre as pessoas donas do que pode produzir (terra, minas, maquinaria, etc.) e as pessoas que trabalham para essas pessoas, que são apenas donas do seu trabalho, que são obrigadas a vender por pouco mais que nada. Esta luta, a que Marx chamará a luta entre as classes sociais, há de desembocar numa sociedade sem classes sociais, sem explorados nem proprietários. Face à resistência dos ricos em largar a sua riqueza, terá de ser uma ditadura a nivelar os rendimentos e a proporcionar às pessoas uma vida digna em todas as suas facetas.

Muitos trabalhadores aderem a esta maneira de pensar e a esta praxis, pois em mais lado nenhum veem os seus interesses defendidos. Desde o século IV que a hierarquia da Igreja se aliara aos ricos e poderosos, tornando-se ela mesma riquíssima e poderosíssima até ao fim do século XVIII. Marx constata que o Cristianismo estivera sempre aliado aos ricos e poderosos, pregando docilidade aos miseráveis e acenando com uma felicidade futura compensadora do vale de lágrimas que a vida era para 90% (?) das pessoas.

Face a este estado de coisas, no fim do século XIX surge um Papa bom e esclarecido: Leão XIII. Terá uma ação muito inteligente e benéfica em vários aspetos da vida da Igreja, mas o que marcará o seu pontificado será uma encíclica – Rerum novarum – em que exporá a visão da Igreja face às profundas injustiças sobre que vários filósofos já se tinham debruçado. A miséria/pobreza passa a ser uma preocupação dos Papas, os católicos são convidados a contribuir para a mudança das estruturas sociopolíticas opressoras, até o Papa Francisco ter exigido que o próprio estilo de vida da hierarquia da Igreja seja menos luxuoso, dando ele o exemplo de uma vida em que o clero tem de servir modestamente, em vez de fazer das suas missões um trampolim para vidas desafogadas ou mesmo faustosas.

É na esteira destes dois Papas que Leão XIV quer assentar o seu pontificado, talvez com uma novidade. Acentuará que o reinos dos Céus não está vedado aos materialmente ricos, mas sim aos sem compaixão pelo sofrimento alheio. O Papa quer que construamos pontes dentro e fora da Igreja. Pontes mesmo com os mais pecadores, os mais desprezados pelos católicos que se acham sem (grande) mancha. (Acrescento nosso.) E já deu sinais de comungar das ideias de Francisco de que a Teologia (a ciência sobre Deus) tem de ser uma disciplina com consequências práticas e não uma torre de marfim para deleite de intelectuais isolados do sofrimento que grassa à sua volta.

Rezemos, pois, pelo nosso Papa vergado pelo peso da responsabilidade espiritual, política, social e consuetudinária (costumes na Igreja material).

Gonçalo Miller Guerra, sj

© Art Institute of Chicago (Unsplash.com)

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