O Papa está em viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos. Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, assinaram, em Abu Dhabi, uma Declaração que condena o terrorismo e a intolerância religiosa e que o Vaticano considera “histórica”.
“Pedimos a todos que deixem de usar as religiões para incitar o ódio, a violência, o extremismo e o fanatismo cego, e que se abstenham de usar o nome de Deus para justificar atos de assassinato, exílio, terrorismo e opressão”, refere o documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência comum.
O texto, divulgado durante um encontro inter-religioso promovido nos Emirados Árabes Unidos, parte da “crença comum em Deus”, que “não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.
Al-Azhar é a mais conceituada instituição teológica e de instrução religiosa do Islão sunita no mundo e a mais antiga universidade islâmica, tendo sido construída em 969.
Católicos e muçulmanos assumem que as religiões “nunca devem incitar a guerra, atitudes de ódio, hostilidade e extremismo”, nem devem incitar à violência ou ao derramamento de sangue.
Al-Azhar al-Sharif e os muçulmanos do Oriente e do Ocidente, juntamente com a Igreja Católica e os católicos do Oriente e do Ocidente, declaram a adoção de uma cultura de diálogo como o caminho; a cooperação mútua como código de conduta; a compreensão recíproca como método e padrão”, lê-se no documento.
O Papa e o grande imã esperam que a posição conjunta una em seu redor intelectuais, filósofos, figuras religiosas, artistas, profissionais dos media e homens e mulheres de cultura para “redescobrir os valores da paz, justiça, bondade, beleza, fraternidade humana e coexistência”.
No documento apela-se ao reconhecimento e implementação do conceito de “cidadania plena”, considerando “essencial” que as mulheres tenham direito à educação e ao emprego e liberdade de “exercer os seus próprios direitos políticos”.
“Também é necessário proteger as mulheres da exploração sexual e de serem tratadas como mercadorias, objetos de prazer ou de lucro”, pode ler-se.
A declaração alude a uma “deterioração moral” que influencia a ação internacional e questiona o “silêncio inaceitável” perante as crises que originam “a morte de milhões de crianças”.
“Condenamos todas as práticas que são uma ameaça à vida, como o genocídio, atos de terrorismo, deslocamento forçado, tráfico de pessoas, aborto e eutanásia. Da mesma forma, condenamos as políticas que promovem essas práticas”, acrescentam os signatários.
O Papa e o grande imã de al-Azhar pedem que ninguém seja forçado a “aderir a uma determinada religião ou cultura”, bem como a proteção dos locais de culto – sinagogas, igrejas e mesquitas.
A Declaração de Abu Dhabi assume o “objetivo de encontrar uma paz universal de que todos possam desfrutar nesta vida”, crentes e não-crentes.
Esta é a primeira viagem de um pontífice católico à península arábica, uma visita iniciada no domingo que se conclui esta terça-feira, com uma Missa para a comunidade católica nos Emirados, constituída sobretudo por emigrantes.
Texto: Redação/Ecclesia
Foto: Vatican News