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Crer em Cristo, amar a Igreja, unidos ao Papa

Cristo, Igreja e Papa (enquanto sucessor do apóstolo Pedro) é uma trilogia indissociável. Não se pode acreditar em Cristo, Filho de Deus Pai, sem amar a Igreja que Ele fundou e tal como Ele a quis, assente sobre a rocha de Pedro: “Eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino do Céu” (Mt 16, 18-19). Aplico aqui o que Jesus disse no contexto da fidelidade matrimonial: “Não separe o homem o que Deus uniu” (Mc 10, 9).

O lado humano da Igreja, por vezes (demasiadas vezes!) desfigura a beleza do rosto de Cristo, tão divino quanto humano. Mas nem por isso deixa de ser a sua esposa querida e amada. A Igreja somos todos nós, a quem Cristo Se entrega de alma e coração, em comunhão total. Cristo nunca Se divorcia da Igreja, por mais pecadora que seja. A nova aliança de Cristo connosco, a sua Igreja, é mesmo eterna, definitiva, total.

Como afirma um romancista francês, Georges Bernanos: «Não reformamos a Igreja senão sofrendo por ela… Não reformamos os vícios da Igreja senão prodigalizan­do o exemplo das suas virtudes mais heroicas». E Daniel-Ange sublinha: “Nós não curamos a Igreja senão amando-a”. O nosso amor à Igreja é que a torna melhor. O criticismo, de quem absolutiza dogmaticamente as suas opiniões, falando da Igreja “Mãe e Mestra” como de uma mulher perdida, agrava os seus males. Só é possível curar as feridas de alguém, não agredindo-o porque ficou enfermo, mas tratando as suas feridas com a arte do amor.

Entre tantos belos exemplos de fidelidade à Igreja de Cristo, cito o de Santo Inácio de Loiola. Viveu no século XVI (1491-1556), nos tempos complexos e difíceis da divisão da Igreja com o protestantismo; tempos em que a hierarquia, bispos e papa incluídos, era não raramente causa de escândalo: simonia, vida de grandes senhores entre luxos e luxúrias. Mas Santo Inácio, nas suas mais de sete mil cartas, nunca explicitou nenhuma crítica às autoridades da Igreja do seu tempo, não lhe faltando matéria abundante, caso quisesse fazer exercícios de maldizer.

Nos Exercícios Espirituais, livro que é a trave-mestra da sua espiritualidade, Santo Inácio apresenta-nos as “Regras para sentir com a Igreja”, onde afirma sem rodeios: “Deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é a nossa santa Mãe, a Igreja hierárquica” (n. 353). E, na Fórmula fundacional da Companhia de Jesus, sublinha que a nossa ação por Deus se deve exercer “sob a fiel obediência ao santíssimo Senhor nosso Papa e aos outros Romanos Pontífices seus sucessores” (n. 3), prescrevendo que os jesuítas professos deverão fazer um voto especial de obediência ao Papa.

A fidelidade a Cristo exige a fidelidade à sua Igreja, que tem no Papa, sucessor do apóstolo Pedro, o seu imprescindível centro de unidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, Cristo “colocou o bem-aventurado Pedro (e os Papas seus sucessores) à frente dos outros Apóstolos (os Bispos que se lhes seguiriam) e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão” (LG 18). Quem se opõe ou põe de lado o Papa, rompe a unidade da Igreja que Cristo tanto pediu: “Rogo… por aqueles que hão de crer em Mim, para que todos sejam um só” (Jo 17, 20-21).

Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, nem que seja o Rei ou o Papa. Todos temos o direito de gostar muito, pouco ou nada do perfil e estilo de Paulo VI ou de João Paulo II, de Bento XVI ou de Francisco. Mas o mandamento cristão de amar o próximo é vinculativo: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12), disponíveis para dar a vida. E a obediência eclesial não pode estar vinculada a gostos, modas ou sim/antipatias. Cristo identifica-Se com a autoridade da hierarquia da Igreja: “Quem vos ouve, a Mim ouve, e quem vos despreza, a Mim despreza” (Lc 10, 16).

O lugar do Papa na Igreja é único e imprescindível. Como afirma S. Leão Magno: “Embora haja no povo de Deus muitos sacerdotes e muitos pastores, Pedro (e cada um dos seus sucessores) é o verdadeiro guia de todos aqueles que têm Cristo como chefe supremo”. A Igreja não é de Cristo se não assenta sobre a rocha de Pedro e dos Romanos Pontífices que se lhe têm sucedido.

Vozes se têm feito ouvir contra o atual “servo dos servos de Deus” Francisco, como que assumindo a própria infalibilidade antipontifícia. Em santa discordância, importa procurar amar mesmo quem promove a desunião, para que se converta. Claro exemplo desta missão de unir a Igreja à volta do sucessor de Pedro é a carta, de 7 de outubro, que o Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação dos Bispos, escreveu ao Arcebispo Carlo Maria Viganò, em estilo tão enérgico quanto fraterno.

Sigamos por este justo caminho, que é o de construir pontes de unidade. Como Jacinta de Fátima, com amorosa simplicidade, dêmos cumprimento ao seu convite: “Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por ele”.

 

Manuel Morujão, sj

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