O Papa publicou hoje a sua mensagem para a Quaresma 2019, que os católicos começam a celebrar no dia 6 de março, com um apelo à “conversão” na relação da humanidade com a natureza, levando a estilos de vida mais solidários e ecológicos.
“Quando não vivemos como filhos de Deus, muitas vezes adotamos comportamentos destruidores do próximo e das outras criaturas – mas também de nós próprios –, considerando, de forma mais ou menos consciente, que podemos usá-los como bem nos apraz”, escreve Francisco, no texto divulgado pelo Vaticano.
A mensagem alerta para as consequências do que é apresentado como a “intemperança”, uma atitude que “viola os limites que a nossa condição humana e a natureza pedem para respeitar”.
A mensagem tem como título “A criação encontra-se em expetativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus”, expressão retirada da carta de São Paulo aos Romanos, um dos textos do Novo Testamento.
O Papa contrapõe a “lei de Deus, a lei do amor” à “lei do mais forte sobre o mais fraco”, considerando que esta é uma manifestação do mal, “como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e muitas vezes também pelo próprio”.
Esse mal leva à “exploração da criação (pessoas e meio ambiente)”, para alimentar uma “ganância insaciável que considera todo o desejo como um direito”.
Evocando o ‘Cântico do irmão sol’ de São Francisco de Assis, o santo que inspirou a escolha do nome do Papa para o pontificado e o nome da sua encíclica ecológica, ‘Laudato si’, Francisco sublinha que os santos “rendem louvor a Deus e, com a oração, a contemplação e a arte, envolvem nisto também as criaturas”.
Esta harmonia, acrescenta a mensagem, está ameaçada “pela força negativa do pecado e da morte” – “trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se como deus da criação, a sentir-se o seu senhor absoluto e a usá-la, não para o fim querido pelo Criador, mas para interesse próprio em detrimento das criaturas e dos outros”.
O Papa propõe a todos os católicos um caminho de preparação para a Páscoa marcada pelo “arrependimento, a conversão e o perdão”, com manifestações na vida pessoal e social, “particularmente através do jejum, da oração e da esmola”.
“Peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão. Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais”, conclui o texto, simbolicamente datado de 4 de outubro de 2018, dia da festa litúrgica de São Francisco de Assis.
A Quaresma, que começa com a celebração de Cinzas, é um período marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.
Na mensagem para a Quaresma deste ano, Francisco esclarece para que serve jejuar, orar e dar esmola. E explica:
“Jejuar – isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração.
Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia.
Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence”.
Texto: Octávio Carmo/Ecclesia