Um coração que bate por ti

“Essa imagem venerada de Cristo, onde se destaca o seu coração amoroso, tem ao mesmo tempo um olhar que apela ao encontro, ao diálogo e à confiança; tem mãos fortes capazes de nos sustentar; tem uma boca que nos fala de uma forma única e personalíssima”.1 (Papa Francisco)

Diz o Senhor: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Que sentido têm estas palavras na nossa vida quotidiana? O que é que reconhecemos que nos dá Vida e Vida em abundância?

“Sou eu, não temais”, diz-nos várias vezes (Mt 14, 27; Mc 6, 45). É Ele quem está presente no que vivemos, na origem de tudo o que nos rodeia, dos nossos impulsos, daquilo que sustenta o universo, Ele que dá Vida em tudo e a tudo, Ele que tudo vivifica. Como nos diz o Passo Seis do Caminho do Coração, somos “habitados por Cristo”, todos e cada um e toda a Criação.

O Senhor habita em nós e deseja que deixemos a sua Vida manifestar-se em nós, até que sejamos capazes de dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). É um convite pessoal a entrar em familiaridade com o Senhor, escutando a sua palavra, reconhecendo que Ele habita no coração dos acontecimentos, das pessoas, dos lugares… de tudo o que toca a nossa vida.

A realidade está impregnada do Coração de Cristo e esse Coração bate por nós em tudo e, a partir da realidade, convida-nos a reconhecê-lo, a escutá-lo e a segui-lo. O coração da realidade é o próprio Cristo, que a sustém e nos convida a contemplá-lo, para que, conhecendo-o interiormente, mais o amemos e sigamos.

“A imagem do coração deve remeter-nos para a totalidade de Jesus Cristo no seu centro unificador e, a partir desse, simultaneamente deve levar-nos a contemplar Cristo em toda a beleza e riqueza da sua humanidade e da sua divindade.2 Por isso, contemplando-o na realidade, reconhecemos a sua Pessoa e na sua Pessoa encontramos toda a nossa realidade, as pessoas e as coisas que vivemos.

“Contemplando o Coração de Cristo reconhecemos como nos seus sentimentos nobres e sadios, na sua ternura, no vibrar do seu afeto humano, se manifesta toda a verdade do seu amor divino e infinito”.3

Contemplar o Coração de Cristo em toda a realidade é contemplar o amor que nos rodeia e nos move. É entrar na vida do Espírito, escutando a sua voz e reconhecendo-o no que vivemos. É “nascer de novo”, “nascer do alto”, como Jesus disse a Nicodemos (cfr. Jo 3, 3). Não é uma questão de observâncias ou de conhecimentos, mas de nascimento. É necessário familiarizarmo-nos com a nossa vida interior e, pouco a pouco, aprender a decifrá-la para nos tornarmos dóceis ao Espírito Santo.

O Espírito Santo ajuda-nos a discernir o que é realmente o Amor: o amor aos inimigos e o perdão das ofensas conduzem-nos ao mais profundo do Coração de Jesus; são o seu intérprete.

O Passo Seis deste caminho ajuda-nos a contemplar o Coração do Senhor, deixando-nos impregnar pelo seu amor, conhecendo profundamente a sua maneira de agir, as suas motivações, os seus sentimentos, os seus juízos… o seu estilo de vida. Este passo é um convite a “comer o Evangelho”, ali onde o Senhor se nos manifesta, para que, familiarizados com a sua forma de ser, o reconheçamos na nossa vida quotidiana.

“Entrando no Coração de Cristo, sentimo-nos amados por um coração humano, cheio de afetos e sentimentos como os nossos”.4

Atreves-te a ler um dos quatro Evangelhos completo, do início ao fim? Entra no itinerário humano de Jesus e apaixona-te por Aquele que está apaixonado por ti.

1 Carta Encíclica do Santo Padre Francisco sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Dilexit nos, outubro 2024, n.º 54.

2 Dilexit nos, n.º 55.

3 Dilexit nos, n.º 64.

4 Dilexit nos, n.º 67.

Bettina Raed | Vice-diretora internacional da Rede Mundial de Oração do Papa

(In Mensageiro do Coração de Jesus, agosto/setembro de 2025)

© Sagrado Coração de Jesus, de Pompeo Batoni (1767)

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