Domingo XXI do Tempo Comum – Ano B
Temos uma visão demasiado romântica da vida de Jesus. Sim, sabemos que Ele morre na cruz, mas depois ressuscita e envia o Espírito, pelo que até parece que o sofrimento é coisa pouca. Sim, sabemos que havia quem não gostasse d’Ele e o rejeitasse, mas no final de contas cria-se a Igreja, que chega até hoje. Sim, sabemos que a certa altura até a sua família duvidou d’Ele, mas isso não é grave. Contudo, o Evangelho de hoje mostra-nos uma dimensão bem dura: muitos discípulos abandonaram Jesus por causa do que Ele dizia, porque consideravam loucura as suas palavras.
No atual momento do mundo ocidental, quantas vezes evitamos falar daquilo em que acreditamos com medo de perder «fiéis» ou sermos motivo de gozo? O Evangelho de hoje mostra-nos que esse receio não dominava Jesus. É possível que fosse tentado, mas resistia-lhe, pois o que vemos em Jesus é uma grande liberdade em relação à quantidade dos discípulos, ao ponto de perguntar aos poucos que ficam: «também vós quereis ir embora?».
Então como hoje, muitos pensam que as palavras de Jesus são demasiado duras e, por isso mesmo, afastam-se. E alguns permanecem entre os discípulos, mas não acreditam, vivendo uma fé à sua medida. A todos, Jesus trata com caridade, sem deixar de apontar o caminho da santidade: viver ao seu estilo, amando todos, desejando que todos o sigam, mas sem querer sacrificar a verdade às ideias do momento.
O seguimento de Jesus é uma escolha pessoal, não é uma obrigação. E o anúncio do Evangelho nunca agradará a todos, desde o cuidado com os pobres e migrantes, que para muitos não passam de preguiçosos ou oportunistas, a um compromisso com a dignidade da vida desde a conceção até à morte, dignidade que para muitos só é defensável enquanto não contraria as suas conceções de vida cómoda.
Desejemos e trabalhemos por uma Igreja ao estilo de Jesus, verdadeira e transparente, genuína e autêntica, em que todos têm voz, em que se segue o Evangelho, em que se deseja mostrar o Pai e não as ideias da moda. O Evangelho não promete facilidade nem ausência de sofrimento, mas sim vida com sentido e sabor a eternidade, uma vida ao estilo do nosso irmão, Jesus, livre e amorosa.
Jos 24, 1-2a.15-17.18b / Slm 33 (34), 2-3.16-23 / Ef 5, 21-32 / Jo 6, 60-69