Entre 2020 e 2022, a perseguição contra cristãos aumentou nos países asiáticos, no Médio Oriente e em África. A conclusão consta no relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’, elaborado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, produzido a nível internacional e que engloba 24 países.
De acordo com o documento, o nacionalismo religioso e o autoritarismo intensificaram os problemas dos fiéis, incluindo o regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão, o que levou os cristãos e outras minorias a uma desesperada tentativa de fuga”.
A AIS refere que o número de ataques aumentou “acentuadamente” nos dois anos em análise, havendo registo de mais de 7600 cristãos mortos.
Este relatório, produzido a cada dois anos, tem como objetivo analisar as violações da liberdade religiosa contra os cristãos nalguns dos países onde há “descrições persistentes de abusos de direitos humanos”.
A realidade por continentes
“A violência sistemática e um clima de controlo resultaram num aumento da opressão aos cristãos, em países tão diversos como a Coreia do Norte, a China, a Índia e a Birmânia”, indica a fundação pontifícia.
Quanto ao continente africano, o documento demonstra que a situação dos cristãos “piorou em todos os países sob pesquisa”, com provas de “um grande aumento de violência genocida por parte de grupos militantes, incluindo jihadistas”.
“O extremismo ameaça comunidades cristãs, outrora fortes. Na Nigéria e noutros países, a violência transpõe claramente o limiar do genocídio”, alerta o documento, acrescentando que esta realidade é causada em grande medida por grupos como o ‘Boko Haram’, na Nigéria, e a ‘Província Islâmica do Estado do Oeste da África’ (ISWAP), que tentam estabelecer califados na região do Sahel.
Quanto ao Médio Oriente, a fundação pontifícia considera que “a própria sobrevivência das comunidades cristãs no Iraque, na Síria e na Palestina está em causa”.
Um dos países em análise é Moçambique, onde ataques sistemáticos por parte de grupos terroristas islâmicos, que reivindicam a sua ligação ao Daesh, “levaram já ao deslocamento de mais de 800 mil pessoas e à morte de mais de 4 mil”.
O testemunho do padre Andrew Abayomi
O relatório abre com um testemunho do padre Andrew Abayomi, que estava a celebrar a Missa no Domingo de Pentecostes, a 5 de junho deste ano, quando a igreja foi alvo de um ataque na Nigéria, provocando 40 mortes e dezenas de feridos.
“Enquanto as balas enchiam o ar, eu só pensava em como salvar os meus paroquianos. Alguns conseguiram trancar a porta de entrada e eu chamei as pessoas para entrarem na sacristia. Dentro da sacristia, eu não conseguia mexer-me: as crianças rodeavam-me e os adultos agarravam-se a mim”, relata o sacerdote.
O padre Andrew Abayomi considera que o mundo está a ser, de alguma forma, cúmplice destes terroristas. “Está a acontecer um genocídio, mas ninguém se importa”, alerta.