Caro leitor, temos outra luta ideológica no horizonte: defender «pai» e «mãe». O «pai» e a «mãe» já estão fora de moda em alguns sítios e, claro, vamos ter quem queira trazer para cá essa bela tendência. Porquê? Porque «pai» e «mãe» é um atentado a dois homens a fazer de pai (quem será o pai?) e duas mulheres a fazer de mãe (quem será a mãe?), e isso é que é ideologicamente sagrado. Nisso é que não se pode mexer. No dia 24 de fevereiro deste ano, Helena Matos escreveu no Observador: «Paulatinamente os documentos oficiais estão a tornar-se em peças de criação de uma identidade ditada pela ideologia, em que o facto consumado dita a lei: causou agora perplexidade que em França se pretenda excluir os termos pai e mãe da documentação escolar. Mas, na verdade, já em 2017, a Junta da Andaluzia eliminara as figuras de pai e mãe nos boletins escolares. E a discussão sobre se se deve ou não celebrar o Dia da Mãe e do Pai nas escolas tem largo historial por essa Europa fora». E o problema não é a compaixão por aquelas crianças cujo pai ou mãe morreram. Não. Nisso não se fala. O problema é as crianças com dois homens a fazer de pais e duas mulheres a fazer de mães. As crianças que não têm pai ou não têm mãe por opção dos pais ou das mães e que «ficam a olhar» quando as outras celebram o progenitor que as famílias delas fingem a criança não ter. Fingem porque todo o ser humano tem um pai e uma mãe.
São ainda contrários à celebração dos dias do Pai e da Mãe os casos em que há uma separação num casamento heterossexual para um dos cônjuges e por que não os dois? ir viver com uma pessoa do mesmo sexo, situação em que a criança fica com madrasta e/ou padrasto gay. (Considerando esta hipótese já se percebe muito melhor que se queira abolir os festejos do dia do Pai e do dia da Mãe.) Dar relevo às famílias com pai e mãe, por exemplo celebrando estes dias, vai, pois, tentar ser abafado em prol das famílias com pais do mesmo sexo. Estas é que vão ser (estão a ser) catapultadas para a frente da propaganda ideológica que pretende subvalorizar a família cristã. Pois o objetivo não é erradicar tudo o que é cristão?
Essas crianças têm de ser tratadas com todo o carinho e os seus pais ou mães com todo o respeito. Não é isso que está em causa. O que está em causa é que também haja TODO o carinho e respeito para com os pais heterossexuais.
A este propósito, a respeito de uma polémica que esteve acesa, há muito pouco tempo, sobre o que se passou numa aula de educação sexual no Barreiro, tenho a dizer o seguinte: o nosso Papa é o primeiro a dizer que devemos acolher (bem) no seio da Igreja as pessoas com uma orientação sexual orientada para pessoas do mesmo sexo. É bom que as escolas católicas, em sintonia com os pais, vão falando das pessoas com esta orientação e não façam disto tabu, dando critérios, baseando-se em documentos da Igreja cujo conhecimento falta aos nossos pais. Mas conscientes que da parte dos adolescentes se vão deparar com muitas resistências, porque muitos (?), só estão nas escolas católicas para entrar na universidade. Infelizmente.
Ser católico é, por estas e outras razões, cada vez mais um compromisso militante.
Gonçalo Miller Guerra, sj