Há dias, vi o vídeo de uma mulher numa manifestação. Desvairada, insultava os polícias com os piores palavrões. Pior do que isso, era o ódio evidente no modo como se dirigia aos agentes da autoridade. E, pelo meio, gritava: EU SOU PROFESSORA! Perguntei-me o que podia ensinar alguém assim…
1. A resposta acabou por me surgir, pensando no contexto da manifestação. Tratava-se de uma manifestação contra alguém democraticamente eleito, mas cuja eleição o campo contrário simplesmente se recusava a aceitar. O que naquela manifestação e noutras semelhantes se afirmava era o ódio como forma de fazer política mas atirando sobre os outros a responsabilidade pelo ódio e o facto de odiar. Aquela PROFESSORA, afinal, podia ensinar muito aos seus alunos. Podia ensinar-lhes como, orwellianamente, se muda a linguagem e se faz do concidadão com ideias diferentes um não-ser ou um não-humano.
2. Acontece o mesmo com o insulto da moda, em política: populista. Populistas são aqueles que se predefiniu como pertencendo à direita, politicamente falando. Entre nós, por exemplo, a líder de um certo bloco pode dizer os mais bafientos disparates estalinistas ou maoistas, fazendo apelo aos instintos mais básicos das massas, que ninguém estranha nem lhe chama populista. E o governo da geringonça pode prometer sol na eira e chuva no nabal a todos e todos os dias do ano, que ninguém chama a isto populismo. Esse é um epíteto-insulto com que só a direita sem direito de cidadania plena nos nossos regimes politicamente corretos tem direito a ser mimoseada.
3. Na Europa, e não só, começa a tornar-se evidente o cansaço de muita gente com o internacionalismo marxista, disfarçado de progressismo, que domina grande parte das elites intelectuais e com o multiculturalismo serôdio das mesmas elites, no qual só não há lugar para as tradições culturais dos povos europeus. Chamar populismo a este cansaço pode funcionar durante algum tempo, mas a prazo só vai aumentar o cansaço. Insistir nisso e tratar com desprezo as pessoas que se sentem órfãs da sua cultura pode vir a revelar-se, parafraseando um famoso ditador, a mãe de todas as desgraças.
Elias Couto