Os terríveis atos de terroristas em Paris, entre tantos outros atentados que ultimamente se têm sucedido, quantas vítimas fizeram? As estatísticas respondem friamente: 130 mortos e 300 feridos. Mas há um número incontável de milhões que também foram vítimas: os feridos com balas de medo, com explosivos de insegurança, metralhados pela desconfiança de que o mundo possa ser melhor, convivendo como irmãos da mesma família humana.
O Papa Francisco também nos tem dado lições de coragem ao jeito de Cristo e até de descontração bem-humorada. Assim, tem procurado desenvencilhar-se de medidas reforçadas de segurança, viajando em carros simples, sem serem topo de gama nem blindados. Aos que lhe recomendavam que se deveria defender com todas as medidas da prudência, respondeu: «Ninguém morre de véspera». Acabado de aterrar em Nairobi, capital do Quénia, na sua recente viagem a África, alertado para um possível atentado de fundamentalistas, retorquiu: «A única coisa que me preocupa são os mosquitos».
Louvemos o Senhor Jesus, que o Sucessor de Pedro muito especialmente representa, que com vigor nos adverte: «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde» (Jo 14, 27). E poeticamente, ultrapassando a prosa da insegurança, assim nos desafia: «Porque vos preocupais com o vestuário [e com mil e uma outras coisas]? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé» (Mt 6, 28-30).
Ou seja, o único seguro contra todos os riscos é o seguro da confiança em Deus, que tudo pode e sempre nos ama com desmedida ternura. Para esta confiança não há prazo de validade nem condições que a limitem. Tudo o mais é extraordinariamente secundário. A confiança é um escudo blindado contra os ataques do medo e da insegurança, contra os disparos da ansiedade e da angústia. Como cristãos, temos o privilégio de poder confiar ilimitadamente. A fé afasta o medo. E o medo afasta a fé. Neste contexto, há uma expressão muito bela de um crente americano chamado Martin Luther King (1929-1968): «O Medo bateu à porta. A Fé foi abrir. Não havia ninguém». O problema está em que, quando qualquer tipo de medo nos bate à porta, nós pedimos à desconfiança ateia que vá abrir. Logo nos entram na casa do nosso coração fantasmas e lobos maus, vampiros e dráculas.
O nosso mundo precisa de profetas e testemunhas da confiança, na esteira de Jesus Cristo, «Príncipe da Paz» (Is 9, 5). Advertindo-nos que não viveríamos num mar de rosas sem espinhos, Cristo recorda que nos é garantida a vitória sobre as forças do mal: «No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33). Não é verdade que só Deus é omnipotente?
Manuel Morujão, sj