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Uma Igreja com dois Papas

Estamos na semana em que celebramos o 2.º aniversário do Pontificado do Papa Francisco. Foi eleito no dia 13 de Março de 2013 e a sua entrada solene teve lugar no dia 19, festa de S. José, esposo de Maria.

Recordo que o Papa Bento XVI apresentou a sua renúncia no dia 11 de Fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lurdes e Dia Mundial do Doente: «Depois de examinar reiteradamente a minha consciência perante Deus, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino».

As primeiras reacções, na sua maioria, foram de surpresa e espanto, quase que interrogando-?nos se estávamos a ouvir bem e se não seria para tomar as palavras de Bento XVI em sentido figurado. Dentro e fora da Igreja Católica, passou-?se, em geral, a um coro de aplauso pela lucidez e coragem do Papa Ratzinger. O último Papa que tinha resignado foi Gregório XII em 1415, em circunstâncias muito especiais, pois havia três pretendentes a serem o sucessor do apóstolo S. Pedro, no tempo do Grande Cisma do Ocidente.

A resignação anunciada passou a efectiva às 20 horas do dia 28 de Fevereiro de 2013, com Bento XVI retirado para Castel Gandolfo. Não vou deter-me a falar do que aconteceu em seguida com a convocação do Conclave de Cardeais e a eleição, não segundo a lógica jornalística das previsões, de Jorge Mário Bergoglio para sucessor de S. Pedro como Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal.

Quero sublinhar a mais-valia, para a Igreja e para o mundo, que tem sido a experiência de conviverem dois Papas no Vaticano: Bento XVI como Papa Emérito e Francisco como o nosso actual Papa. É felizmente patente e notória a boa relação entre ambos, com indesmentível apreço mútuo. Com grande edificação geral, incluindo de não católicos, temos verificado que cumprem o que nos recomenda São Paulo: «Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno; adiantai-vos uns aos outros na estima mútua» (Rm 12, 10).

As visitas, os convites para aparecer em celebrações públicas, as referências de apreço e as saudações que ultrapassam as regras protocolares e mostram afecto têm sido acções de evangelização, que calam fundo nos corações de todos, independentemente da ideologia ou religião.

É claro que o estilo de viver a missão de sucessor de Pedro é bem diferente entre Bento XVI e Francisco. Basta citar a origem germânica do primeiro e a procedência sul?-americana do segundo, para além de temperamentos e gostos pessoais. Mas também isto tem sido uma lição: é desejável e possível estabelecer relações de colaboração e amizade com quem é diferente de nós. As nossas diferenças não estão destinadas a se oporem ou anularem, mas devem ser um enriquecimento mútuo. A convivência dos dois Papas, Bento XVI e Francisco, tem enriquecido a Igreja e edificado um mundo melhor. É fácil de prever que esta fórmula binária terá futuro no exercício do ministério petrino.

 

Manuel Morujão, sj

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