Domingo V do Tempo Comum – Ano B / Dia da Universidade Católica Portuguesa
Quando nos encontramos com alguém na rua e perguntamos «como está?», a resposta mais comum é «ocupado». Já nem nos referimos à saúde que temos ou não temos; o que nos angustia é a quantidade de tarefas que estão por fazer, a enormidade de solicitações às quais temos de dar resposta. E há mesmo uma pressão social para estar «ocupado», como se fosse pecado ou desperdício de tempo não ter sempre «coisas para fazer». Infelizmente, parecemos uma geração de Job’s, insatisfeitos com a velocidade dos dias, como ouvimos na primeira leitura, quando deveríamos parecer Paulo, cujo entusiasmo pelo que faz é palpável. O anúncio do Evangelho, ainda que imposto como obrigação, como diz Paulo na segunda leitura, faz com que este corra cheio de vida, contando como recompensa não o resultado do trabalho, mas o privilégio de anunciar.
Quão diferentes seriam as nossas vidas se olhássemos para as tarefas que temos pela frente como a nossa oportunidade de dar testemunho do Evangelho. Para viver desta forma, mais do que vontade de o fazer, temos de aprender com Jesus a viver centrados, pois é aí que se encontra o segredo do seu dinamismo, algo que o Evangelho deste domingo insinua.
Entremos no Evangelho deste domingo com atenção ao muito que está a acontecer. Jesus cura a sogra de Pedro assim que entra em casa, quando era expetável que pudesse descansar um pouco, já que vinha de curar pessoas e de ensinar na sinagoga. Nessa mesma noite, mal o sol se põe, trazem-lhe doentes e possessos para que os cure, o que Ele faz. São Marcos acrescenta que toda a cidade de Cafarnaum está reunida à frente da casa, muitos seriam curiosos, enquanto outros queriam mesmo falar com Ele, o que indica que a noite será longa.
De madrugada, Jesus levanta-se e sai para ir rezar. Ele esteve a curar noite dentro, deve ter tido imensas conversas, e no dia seguinte levanta-se cedo para rezar. Deverá ter dormido muito pouco. Seguramente sente-se consolado pela quantidade de pessoas que pôde ajudar, mas é inevitável que esteja cansado. Ainda assim, quando Pedro o encontra e lhe aponta as pessoas que o esperam, Ele tem a presença de espírito para dizer que é necessário ir a outros lugares, quando teria sido mais fácil ficar na urgência do momento presente, num ambiente familiar e no qual foi bem acolhido.
Esta passagem do Evangelho está cheia de ação e de movimento. E o centro de tudo é Jesus, presença luminosa no meio de tanto bulício. Como é possível que a sua presença inunde tudo de luz quando há tantas solicitações que a poderiam dispersar? Como se pode estar sempre em ação, sempre presente, sem se perder?
O segredo de Jesus está na fidelidade à oração. Não é difícil imaginar que a vontade de Jesus para se levantar cedo, depois de uma noite tão cheia, fosse pouca. Mas foi falar com o Pai para escutar o que Ele lhe pedia. E foi isso que lhe permitiu ver que, existindo ainda muita gente a procurá-lo, estava na hora de partir para outra povoação.
É para cumprir a vontade do Pai que Ele vem. É à escuta do Pai que Ele vive. É esse o centro de uma vida que não se dispersa no meio da ação, que ilumina mesmo quando há tanta dispersão.
Job 7, 1-4.6-7 / Slm 146 (147), 1-6 / 1 Cor 9, 16-19.22-23 / Mc 1, 29-39