Conta uma antiga tradição monástica que, num certo dia, um peregrino se dirigiu a um monge pedindo-lhe para que este o ensinasse a rezar.
«Bem», disse-lhe o monge, «temos de começar pelos Salmos». Mas o peregrino nunca ouvira falar dos Salmos, ao que o monge lhe respondeu:
«A primeira frase dos Salmos é:
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
nem toma parte na reunião dos libertinos.
Vai, medita nesta frase, e regressa aqui amanhã, para continuarmos».
Mas o peregrino não voltou no dia seguinte, nem passados dois dias. O monge só o voltaria a ver ao final de muitos anos, durante os quais o peregrino não cessara de meditar naquela frase.
Corremos o risco de absorver a nossa busca espiritual numa excessiva dispersão, distraída pelas últimas novidades, pelo mais recente livro, por novos autores e correntes, páginas e conferências, textos e técnicas de oração. A busca converte-se assim num consumo, no qual as nossas necessidades, desejos e feridas se dissolvem em múltiplas e parciais respostas.
É um caminho exigente e difícil: o de tomar a sério, numa linha de escuta e atenção, as pessoas, as palavras e os sinais que apontam e revelam o mistério que habita a nossa vida e os nossos dias. É certamente, um caminho de perseverança. Talvez por isso o Evangelho nos apresente a parábola de uma pérola preciosa que, paradoxalmente, exige que de tudo nos libertemos para a adquirir (Mt 13, 44-46). Ou talvez precisemos de recordar as palavras que Jesus dirigiu a Marta: «andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária» (Lc 10, 41-42).
Texto: Rui Vasconcelos
Imagem: Cheryl Ward, Pearl of Great Price, 2015