Há poucas semanas, mais exatamente no dia 24 (março, 2017), fomos abalados com o assassinato de cinco pessoas (uma na barriga da mãe). Todos ficámos horrorizados perante tão bárbaro assassinato. Alguns perguntaram-se sobre a sanidade mental do agressor. Todos querem medidas que previnam tais “matanças”.
A leitura comum do acontecimento é o horror perante a barbárie, o chorar com as famílias das vítimas, a transformação de uma tragédia privada num espetáculo público.
Mas há uma abordagem cristã do crime: o acolhimento do pecador, o acolhimento do criminoso. Temos que o acolher no nosso coração. Temos que o olhar nos olhos e dizer-lhe: “vem, entra dentro de mim que eu aconchego-te”. Não é fácil, mas nós não temos uma religião fácil. Vai contra o nosso instinto, mas não é o instinto que nos comanda. (Ou é?) O que nos comanda o que nos tem que comandar é o Evangelho.
No Evangelho, Jesus perdoa e acolhe (!) sempre que as pessoas não lhe são hostis. Jesus não perdoa o pecado da dureza de coração dos fariseus, dos escribas e dos sumos sacerdotes, Jesus não Se pronuncia face ao pecado do chamado mau ladrão. De resto, não só perdoa como vai à procura da ovelha perdida. Este homem está perdido. É nosso dever irmos à procura dele com o nosso coração, com o nosso pensamento, com a nossa oração. É um homem desgraçado.
Nós, cristãos, estamos com ele. Nós, cristãos, perdoamos. E, se perdoamos, é porque há alguma coisa a perdoar. Há um crime que não varremos para debaixo do tapete. Mas distinguimos com clareza o crime do criminoso. Perdoamos o criminoso e pedimos para ele o perdão de Deus. Amamo-lo.
Mais. Distinguindo com clareza o crime do criminoso, o cristão o leitor e eu não nos julgamos melhores que o criminoso. O cristão pode dizer: “eu não pratiquei aquele crime”. Não pode dizer: “sou melhor que aquele homem”. E quantos de nós não nos sentimos melhores no nosso sofá ao ouvir as notícias na televisão. Nesse caso, Cristo vira-nos as costas e vai atrás daquela ovelha perdida.
Sejamos companheiros de Jesus, sejamos filhos do mesmo pai: amemos aquela ovelha desgarrada.
Gonçalo Miller Guerra, sj