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Um Sentido

A dado momento, durante uma homilia pascal, Agostinho de Hipona interroga-se sobre o motivo pelo qual a Ressurreição de Jesus foi primeiramente anunciada pelas mulheres. A resposta que encontra é, no mínimo, original.

No relato bíblico sobre a queda, em Génesis 2, 25 – 3, 24, há uma mensagem que provoca a rutura do casal primordial com a sua vocação: trata-se da insinuação que a figura da serpente apresenta à mulher, Eva: «Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus». Segundo o texto, a mulher acreditou nesta insinuação, assim como o homem. A mentira, a desconfiança e o desejo violento de posse traçam, desde as origens, a história da humanidade.

Assim, para Agostinho, tal como o anúncio de morte foi transmitido de uma mulher para um homem, assim também o anúncio da vida deveria ser transmitido das mulheres para os discípulos varões. A dinâmica pascal da vida, da esperança e da confiança emergem do mesmo Jardim onde se havia dado a queda. Trata-se de um novo nascimento.

E aqui entra o mais curioso: Agostinho nota como, ao contrário da insinuação primordial, os discípulos têm dificuldade em acreditar. Adão não apresentara obstáculos à mensagem dada por Eva; mas os discípulos consideram as palavras das mulheres como um desvario (Lucas 24, 11).

Talvez seja esta a condição que nos acompanha: mais facilmente cremos (damos crédito) numa mensagem de defesa, de desconfiança e de rutura, do que numa mensagem de confiança, abertura e sentido. Há uma necessidade de seguir os sinais – as ligaduras, a pedra removida –, sem deles, no entanto, possuirmos uma certeza plena de seguranças. Que este Tempo Pascal nos ensine algo desta linguagem.

Texto: Rui Vasconcelos

Imagem: “The Three Marys”, Henry Ossawa Tanner, 1910

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