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Um país precipitado

Como é possível pensar-se em legalizar a eutanásia num país onde não existe sequer uma rede efetiva de cuidados paliativos? Portugal precisa é de qualificar e humanizar os cuidados de saúde e de implementar uma rede de cuidados paliativos em todo o território nacional.

É precipitado e inconsequente falar de legalização da morte assistida quando há milhares de pessoas doentes, muitas gravemente doentes, sem acesso aos devidos cuidados médicos e paliativos.

A rede de cuidados paliativos de que tanta gente precisa para minorar o sofrimento e viver com dignidade a doença existe há anos no papel, mas não consegue ganhar forma por falta de meios e vontades. E, entretanto, surgem fortes vontades (e consequentemente surgirão os meios) para implementar a morte assistida. Não faz sentido!

Como diz o povo, “ou esta gente sabe pouco da vida ou não sabe ao que anda”. Não sabe, de certeza, que um doente terminal respira esperança até ao último minuto de vida. Que só nos momentos de grande dor e aflição, muitas vezes por falta do devido apoio, é que vê a morte como alternativa. Mas são apenas momentos de desespero, que se esvaem logo às primeiras melhoras.

Quem conhece o dia a dia de um IPO, quem já “viveu” numa unidade de cuidados paliativos, sabe que as pessoas gravemente doentes sonham com a vida, dão-lhe um valor supremo e lutam a cada dia por um dia melhor. São pessoas que precisam de ser tratadas como pessoas e não tanto como doentes, que acreditam na medicina como um meio para superar a dor e viver o tempo que lhes resta em paz, com dignidade. A fase terminal é, muitas vezes, a última oportunidade de crescimento, de aperfeiçoamento e de grande aprendizagem, inclusivamente para quem as acompanha.

Pessoalmente, quero uma “vida assistida”, sobretudo quando estiver doente. Reza a sabedoria popular que “todos nascemos com dia e hora marcada”. Os ditos populares valem o que valem, mas eu espero viver até ao último minuto dos dias que me forem concedidos por Quem me chamou a este mundo.

 

Elisabete Carvalho

 

Autor : Elisabete Carvalho

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