Diz um autor russo, Pavel Florenskij, que «a verdade manifestada é o amor. O amor realizado é a beleza». Esta frase diz-nos de um modo muito condensado que a beleza está profundamente ligada à natureza de Deus. Como nos diz São João, «Deus é amor» e o amor manifesta-se como beleza.
Ao longo da história da Igreja, foram muitos os teólogos e pensadores que refletiram sobre esta questão. Hoje vemos que «a beleza está na moda», como diz um teólogo contemporâneo, Pierangelo Sequeri. O problema, diz Sequeri, é que muitas vezes confundimos a beleza com a mera cosmética, com os «enfeites» que adornam aquilo que em si não é beleza. Tentamos disfarçar a fealdade de algumas coisas das nossas vidas com mentiras. Queremos esconder aquilo que na nossa vida é escuro e feio com uma capa de cosméticos. Não é isso a beleza.
O Cardeal Ratzinger, anos antes de ser eleito Papa Bento XVI, diz-nos que é importante renovar o modo como somos anunciadores do Evangelho. «A beleza, diz o Cardeal Ratzinger, é conhecimento (…), uma forma superior de conhecimento porque toca o homem com toda a grandeza da verdade. (…) O verdadeiro conhecimento é ser atingido pelo dardo da beleza que fere o homem (…). Ser tocados e conquistados através da beleza de Cristo é um conhecimento mais real e mais profundo do que a dedução racional». Ao longo deste discurso, o Cardeal Ratzinger vai sublinhando a pertinência de recuperarmos a importância da beleza como manifestação do Amor de Deus. De facto, chega mesmo a dizer que esta é «uma urgência do nosso tempo».
Este não é um mero problema de bem-estar, ou um simples problema teológico, mas é, na verdade, um problema vital. Somos convidados a fazer da nossa vida um lugar de beleza, um lugar de espanto pelas maravilhas que o Senhor, o «Pastor Belo», nos dá de graça a cada passo da nossa vida.
«Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova», diz Santo Agostinho, que faz uma profunda reflexão sobre a beleza e conclui que a razão de ser da alegria perfeita, do amor, do saborear profundo da vida, da união entre todos nós, numa palavra, de toda a beleza, é só Deus. Tudo o que existe vem de Deus Trino e é atraído por Ele. «Na Trindade encontra-se a fonte suprema de todas as coisas, a beleza perfeita, a alegria completa». É esta beleza que nos atrai e nos inspira a fazermos o movimento de saída de nós em direção ao Pai.
A beleza verdadeira é aquela que nos atrai e faz passar das criaturas ao Criador, dos dons de Deus ao Deus de todos os dons, faz-nos ir «para além» do aqui e agora e atrai-nos para a nossa realidade mais profunda e completa, que é o abraço definitivo do Pai, a contemplação de Deus, o encontro amoroso que faz de nós filhos muito amados. A verdadeira beleza é aquela de um coração pacificado e encontrado. Esta brota da graça de Deus, morto e ressuscitado por cada um de nós.
Marco Cunha, sj