Uma característica nossa, transversal a todos os tempos e todos os lugares, é a procura de um sentido para a vida, isto é, vivemos, na prática, à procura da verdade, daquilo que nos realiza. Há tantas propostas de sentido que nos são oferecidas que às vezes ficamos sem saber para que lado nos havemos de virar. Quem tem razão, afinal? Parece que cada setor da sociedade tem a sua verdade, cada um tem os seus argumentos que parecem ser sempre legítimos. Dizem-nos que não existe uma verdade, que não existe nenhum sentido para a vida. Convencem-nos que a verdade para um pode não ser verdade para o outro.
Fala-se muitas vezes do espírito consumista dos nossos tempos e que as pessoas são cada vez mais superficiais. Não acredito nisso! Todos, até a pessoa mais consumista e aparentemente mais superficial do nosso mundo, temos dentro de nós a necessidade de responder à pergunta fundamental da nossa existência: todos queremos realizar a nossa vida, encontrar o sentido, dar uma motivação profunda àquilo que fazemos e somos. Mesmo quando nem sequer nos apercebemos! Até a pessoa aparentemente mais superficial, que procura só a satisfação imediata das suas vontades, busca, na verdade, um sentido para vida!
No fundo, aquilo que nos move é um desejo profundo de amor e de realização. Ninguém quer deixar a sua vida passar ao lado. Este desejo de uma vida plena está como que escrito nos nossos genes. Queremos uma vida mais feliz, queremos o melhor para a nossa família, queremos que os nossos filhos estudem nas melhores escolas, queremos evitar as dificuldades e maximizar as vitórias e chegar ao fim de cada dia com a sensação de termos tido um dia cheio e bem vivido.
Este desejo profundo de uma vida plena é uma marca divina no nosso coração, um sinal da sua presença. Deus é vida e por isso um desejo de viver uma vida plena, um desejo de uma vida intensa não é para desprezar, mas para acolher porque, mesmo que não nos apercebamos, este, é na verdade, desejo dEle. Jesus diz de Si mesmo que veio para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância (cf. Jo 1, 10)!
Este desejo de realização e de vida plena impele-nos para a satisfação das nossas necessidades, faz com que mergulhemos no nosso dia a dia à procura, muitas vezes sem sabermos o que procuramos. Assim, um adolescente é aquele que está à procura por todos os lados, incessantemente; ainda não tem critérios e por isso quer realizar todos os seu desejos. Imediatamente! Sem esforços. Procura as satisfações instantâneas. A cultura dominante diz-lhe que ele pode satisfazer imediatamente todos os seus desejos com as milhares de possibilidades que lhe são oferecidas. Tantas opções altamente sedutoras nos são apresentadas continuamente. Tantas seduções que nos suscitam desejos que exigem ser experimentados. Imediatamente. Uma viagem a um local inesquecível onde todos os desejos se podem realizar, o último modelo de um telemóvel que finalmente fará tudo aquilo que sempre sonhamos, um detergente que finalmente lava melhor do que todos os outros, um perfume que a todos seduz, um crédito que quase parece que me pagam para o fazer… sempre a última coisa que finalmente satisfará todos os nossos desejos e fará com que tenha mais amigos, mais dinheiro, mais saúde…
Rapidamente nos apercebemos que logo que conquistamos o objeto do nosso desejo, logo que temos o último modelo de telemóvel, o último tablet, o perfume mais caro, a viagem mais exótica, logo que o desejo está satisfeito, este não nos traz a paz. Logo que o objeto do desejo está conquistado, a dor existencial da procura fica ainda mais forte. Não está aqui a felicidade.
A exigência fundamental da vida de cada um de nós está em sermos acolhidos e recebidos pelos outros, isto é: amar e ser amado. A cada proposta sedutora que nos chega achamos sempre que assim seremos mais admirados, mais respeitados, tal como o adolescente que mostra aos amigos o telemóvel novo. Rapidamente percebemos que não somos mais aceites ou amados porque temos este telemóvel novo e, desiludidos, mudamos o foco da nossa atenção para outra oferta do grande supermercado de desejos do mundo, onde cada desejo é apresentado como indispensável para a felicidade e infalível para a nossa realização.
A adolescência termina quando finalmente percebemos que realizar a exigência existencial de fundo, isto é, que o sentido da vida, a paz e a felicidade não estão na satisfação de todos os nossos desejos imediatos, mas antes em aprender a conviver com uma dor que nunca desaparece totalmente, mesmo numa vida aparentemente pacífica e plena. É uma dor que nos empurra para a frente, nos faz abrir caminhos em direção aos outros.
A adolescência termina quando já não fazemos só aquilo de que gostamos, mas aprendemos a amar aquilo que fazemos e centramos o nosso coração no essencial… “onde estiver o teu tesouro aí estará o teu coração (Mt 6, 21).
Marco Cunha, sj