É comum a tendência de situarmos as soluções dos problemas para além de nós. Normalmente acima de nós: autoridades internacionais, presidentes e ministros, chefes, superiores e dirigentes. Os outros em geral, e os grandes em particular, hão de oferecer-nos as soluções de que precisamos. Parafraseando, em positivo, o autor de O ser e o nada, «a solução são os outros».
Há tempos encontrei este pensamento de uma pacífica revolucionária, que transformou ambientes profundamente degradados, com pessoas a morrer na rua, criando espaços de acolhimento fraterno: «Primeira coisa a mudar na Igreja? Tu e eu».
Esta provocação é da Madre Teresa de Calcutá. Ela optou por fazer o que via ser possível, renunciando a lamentações e protestos, atitudes de quem se demite de ser autor de mudança, endossando a responsabilidade para os outros, para os que mandam. Também ela afirmou: «Mais do que protestar contra as trevas, importa acender um simples fósforo». É que nunca os protestos consertaram uns fusíveis, substituíram uma lâmpada ou acenderam uma vela. Gestos simples, acessíveis a qualquer pessoa, têm feito isso e muito mais.
Manuel Morujão, sj