Numa daquelas notícias escutadas de passagem num canal de televisão, falava-se das desigualdades na distribuição da riqueza mundial. Dizia-se que o número de multimilionários tem vindo a aumentar e que uma parte significativa da riqueza mundial se concentra nas mãos de poucas centenas de pessoas. Dos dados apresentados, fixei um, talvez por se referir ao Brasil: cinco cidadãos brasileiros possuem uma riqueza equivalente àquela de que dispõem 100 milhões de compatriotas seus.
Costumo tomar estas estatísticas com um grão de sal. Habitualmente, estes números apresentados por Organizações Não Governamentais (neste caso, a Oxfam), têm uma parte de realidade, uma parte de ideologia e uma parte de propaganda. Não é por acaso que este relatório aparece em vésperas da chamada “cimeira de Davos”, onde se reúnem alguns dos nomes maiores da finança e da economia mundial com algumas das pessoas mais ricas do planeta.
Dito isto, não é possível ignorar os números apresentados, pois eles resumem a realidade, mesmo se de modo parcial. A desigualdade na distribuição da riqueza entre o Norte e o Sul do planeta é um facto. A desigualdade na distribuição da riqueza dentro das sociedades mais ricas como das mais pobres também mais nas mais pobres do que nas mais ricas, diga-se. Só por isso é possível avançar dados tão escandalosos como o referido no início deste apontamento e mesmo que, em vez de cinco, estivéssemos a falar de dez, vinte ou cem para 100 milhões, continuaria a ser escandaloso.
Que fazer? Encolher os ombros e admitir que o egoísmo e a morte têm a última palavra? É uma possibilidade. Outra é sonhar com revoluções capazes de mudar a face da terra e fazer aparecer o homem novo, misto de bom selvagem rousseauniano e revolucionário marxista. Ou, porque não?, experimentar o realismo dos pequenos passos: fazer o possível para melhorar o que nos rodeia, mesmo sabendo tratar-se de uma pequena gota num oceano de injustiça e miséria. Afinal, se todos fizermos o possível, talvez o impossível deixe de o ser.
Elias Couto