Casar não era um desejo só nosso, era um convite de Deus a comprometermos a nossa liberdade pelo outro. Fomos muitas vezes interpelados por esta ideia e, agora, casados, confirmamos que «é uma transfiguração da liberdade! É o próprio exercício da liberdade que liberta».
Liberta porque mostra o sonho que Deus tem para nós e como esse sonho é Bom (como só Ele é Bom) e nos atrai – como o negociante que encontra a pérola de maior valor e “liberta-se” de tudo para a comprar. Liberta porque nos convida todos os dias a sair de nós próprios, fazendo a experiência de quem, ao «perder-se a si mesmo, encontra-se». Liberta porque nos faz participar nos planos de Deus, num convite a assemelhar-nos a Ele e a que, através de nós, o outro possa ser amado por Ele. Liberta porque nos faz descobrir que as coisas mais bonitas que fazemos não são nossas, mas são inspiradas ou doadas por Deus.
Assim, casar foi o passo simples (mas não pequeno!) de aderir àquilo que livremente ansiávamos. Como uma grande mudança que mudou pouco. Foi um novo chegar a casa.
É um compromisso que liberta, mas que não acaba.
No nosso dia a dia, somos constantemente arrastados pela agitação. É fácil prendermo-nos com o barulho, a ocupação e a sensação da «falta de tempo», «distraindo-nos das distrações com distrações». Assim, o grande exercício é o de viver centrados, aprendendo que «tudo tem o seu tempo e que há tempo para tudo debaixo do céu».
Tentamos ser fiéis nos pequenos compromissos. A rotina de oração é um desafio que vivemos e que procuramos que seja cada vez mais partilhada. Rezamos juntos o projeto da nossa família, sabendo que deverá ser esse o guia das decisões que tomamos, e procuramos ser fiéis nos sacramentos e na vida comunitária.
Temos aprendido que «tudo tem o seu tempo» e que é importante saber viver bem cada tempo – tempo para estar, conversar, passear, discutir, gozar, divertir, consolar… E todos os tempos são bons na medida em que nos mantenham unidos no caminho daquilo que nos é pedido. Sentimos que tem sido um tempo em que nos é pedido empenhar no trabalho, reconhecendo o impacto que tem na vida de cada um, dos outros e da nossa família. Mas reconhecemos que aquilo que nos é pedido deverá ser apenas um caminho para algo maior, não podendo ser um obstáculo.
Há, ainda, tempos mais difíceis, que não percebemos e que nos deixam desolados. Mas a experiência que temos de ser cuidados por Deus convida-nos a entregar e a confiar estes tempos, renovando a nossa esperança.
Vivemos também o seu cuidado e companhia no tempo com as famílias e amigos, percebendo como as raízes e as ligações nos constituem. Procuramos também nós abrir a porta e receber, respondendo aos «pobres e a todos os que sofrem, para que eles nos recebam um dia, agradecidos, na eterna morada de Deus».
Assim, no decorrer dos dias casados, agradecemos todos os tempos e pedimos que sejam cada vez mais d’Ele, num exercício de liberdade que liberta.
Helena e Francisco Líbano Monteiro (in Mensageiro do Coração de Jesus)