Como temos vindo a ver nos artigos anteriores, o ritmo de oração diário proposto pelo Apostolado da Oração consta de três momentos: pela manhã, oferecendo o dia em união com as intenções do Santo Padre; ao longo do dia, algum momento que nos ajude a viver esta atitude centrada em Deus e na sua vontade; e, ao terminar o dia, um momento de revisão orante do dia.
Tradicionalmente, chama-se a este momento de reflexão o «exame de consciência». Se bem que, na verdade, se trata disso, é importante não confundir este tipo de oração com o exame de consciência que antecede a celebração do Sacramento da Reconciliação. Isto porque a tendência seria focar-se nos pecados e nas coisas que não correram bem e não tanto em ter um olhar mais alargado sobre o dia que passou. Fazer uma leitura centrada unicamente no que corre mal acaba por ser uma fonte de desânimo e não estamos a olhar para a vida da forma que Deus quer, que é sempre mais aberta e iluminada pela graça do seu Espírito.
Este momento de oração, ao fechar o dia, deverá consistir essencialmente em examinar o modo como se esteve diante da vida e dos seus desafios concretos, na lógica da disponibilidade apostólica, que é a «espinha dorsal» da atitude de oração do AO. Deveria, por isso, consistir em três momentos ou etapas:
Começar por agradecer o dia, a presença de Deus e os dons por Ele concedidos, dando-se conta da generosidade de Deus. A seguir, perguntar-se de que modo se foi vivendo a disponibilidade para cumprir aquilo que Deus foi pedindo, numa situação concreta, numa decisão, num encontro com alguém. Fui disponível ou, pelo contrário, fui obstáculo ao amor de Deus? Com a consciência do que poderia ser melhor, somos então convidados a pedir, com humildade, perdão e a propor uma emenda concreta para o dia seguinte. Onde faltou amor e disponibilidade, amanhã procurarei fazer melhor e estar ainda mais unido a Deus e à sua vontade.
Este breve exercício é fundamental para poder ir acertando o dia-a-dia com aquilo que Deus vai pedindo e constitui, com toda a certeza, um meio muito eficaz de aperfeiçoamento espiritual. Pois não nos centra apenas no mal, mas numa atitude de fundo perante a vida, que é o desejo de mais servir e amar. Tem a vantagem de ser um exercício diário de confronto verdadeiro e humilde, e que permite dar pequenos passos na direcção de uma vida cristã mais autêntica e unida à vontade de Deus. Com o passar do tempo, sentir-se-ão, sem dúvida, os enormes benefícios deste exercício espiritual.
António Valério, sj
(in Mensageiro – junho 2015)