Todos os leitores lembrar-se-ão certamente do momento do regresso às aulas… para muitos, um momento de alegria: pelo reencontro,
pela emoção de contar as férias, pelas saudades, mas para outros tantos, um momento de receio, de medos, de ansiedades. Porque o regresso às aulas pode ser visto como um regresso à vida de oração, com todos os sentimentos que referi. Mas também é importante pensar que o regresso às aulas, durante anos, foi-nos imposto e era inevitável. E agora? Nos dias de hoje, no meio do nosso trabalho e da nossa agitação, também não deveríamos “regressar às aulas”? Parece mais uma oportunidade na nossa relação com Deus, com todos os receios, medos, alegrias e saudades que temos, do que foi e do que ainda pode ser a relação com Jesus.
Sou professor só há seis anos, mas ainda anseio o regresso às aulas: encontrar os meus alunos, com as suas histórias espetaculares de verão, das melhores coisas que fizeram e de quanto se divertiram com as famílias, dos mil campos de férias que frequentaram, mas também encontrar os meus alunos que não gostaram nada das férias, que sofreram tanto que só
queriam voltar para a escola, que sonharam e ambicionaram as “férias de sonho” e foram desiludidos pela falta de amor e carinho daqueles que mais lhes deviam. Estou ansioso por poder dar colo, por poder dar esperança, tentar trazer estabilidade a todos os meus alunos, principalmente aos que mais sofrem (e que é sempre por eles retribuído).
Fazendo uma comparação entre a relação professor-aluno e a relação Deus-cada um de nós, acho que não haverá nada mais parecido e mais sincero. O professor na escola está lá para as nossas derrotas, para limpar as nossas lágrimas, para ouvir quando precisamos, mas também para vibrar com as nossas conquistas, esperar pelo nosso crescimento e abraçar a nossa alegria. O professor está pronto para “conduzir o barco” da melhor forma que sabe, para ser a “rocha da casa”, para ser o pai dos “filhos pródigos” que pode ser uma turma.
E Deus? Será que é assim tão difícil regressar a Alguém que nos traz a confiança que a professora da primária nos transmitia? Que barreiras me estão a afastar deste regresso? São suficientemente fortes? Ou serão dores mais sofridas, ansiosas por ser saradas? Deus, tal como os professores, não quer julgar, não quer maltratar, não quer magoar. Quer acolher, quer ouvir, quer proteger, quer ser a luz nas trevas. E quando um professor deixa de sentir que tem a Graça de possuir estes dons, é porque também ele precisa de Deus. Pois esse é O Professor, aquele que nos espera em qualquer regresso.
Manuel Folhadela
(In Mensageiro do Coração de Jesus, outubro de 2024)