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Redes sociais devem respeitar o interesse da audiência

A evangelização nas redes sociais, como Facebook, Twitter e Instagram, implica a divulgação de mensagens que não sejam exclusivamente de âmbito religioso. A ideia foi defendida pela Irmã Xiskya Valladares, cofundadora da iMisión, nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social e III Jornadas de Comunicação Digital, que decorreram em Fátima, dias 27 e 28 de setembro, e que reuniram 165 participantes. A iniciativa, com o tema «APPlica-te», foi organizada conjuntamente pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e pela Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal, numa parceria considerada positiva pelos responsáveis dos dois organismos.

Conhecida nas redes sociais como «monja tuiteira», a religiosa aconselhou os profissionais a «conversar» e «acolher» os utilizadores. «Não se deve bombardear a rede com mensagens religiosas. Isso não é evangelizar. Isso só interessa a quem é religioso. Quem não vai à Igreja não se vai interessar», afirmou.

Segundo Xiskya Valladares, a linguagem empregue nas redes sociais não pode continuar a ser uma «linguagem antiga»: as «mensagens de sempre» devem ser redigidas «para pessoas novas, para novos usuários». A linguagem própria do jornalismo deve, neste campo, sofrer uma mutação, passando de uma «mensagem plana, sem emoção» que «não vai interessar a uma maioria», para uma comunicação interativa, responsiva, humorística, participativa e que fomente a partilha do estado de espírito dos utilizadores.

Jesús Colina, diretor editorial da Aleteia, sublinhou o papel da Internet como meio para «escutar» os jovens, tomando conhecimento das suas preocupações e gostos. Esta é «uma oportunidade como nunca tinha existido» até agora.

Nas Jornadas, Jesús Colina apresentou os resultados de um inquérito global sobre o perfil dos jovens (dos 18 aos 25 anos) que partilham conteúdos religiosos nas redes sociais. Os dados revelam que Portugal se situa em terceiro lugar no ranking de jovens europeus interessados em religião, encontrando-se empatado com a Lituânia e Malta e atrás da Itália e da Polónia.

Os influencers (pessoas de sucesso que «abraçaram uma causa» e, como tal, influenciam a opinião pública), são, no campo da religião, tão relevantes como noutros campos da vida social dos jovens. Estes pertencem a uma geração que, segundo o diretor editorial da Aleteia, «perdeu as suas referências sociais» e que vive «numa sociedade muito contraditória». O maior influencer para os jovens que se interessam por assuntos religiosos é, de acordo com os dados apurados no estudo, o Papa Francisco.

A apresentação das conclusões das Jornadas ficou a cargo de sete jovens, escolhidos entre os participantes. O grupo destacou o papel dos influencers e a necessidade de trabalhar a linguagem informal, assumir um propósito online, definir o público-alvo e estar presente em todas as redes sociais existentes no mercado.

A importância das APP’s

Nas Jornadas, o diretor digital do Grupo Renascença Multimédia, Nelson Pimenta, desafiou os participantes a assumir a dimensão digital do seu trabalho como parte integrante da realidade. A democratização da tecnologia criou uma nova relação com os fãs e consumidores dos conteúdos produzidos, que passa, agora, pelas APP’s. Neste campo, a questão da perda de privacidade dos utilizadores é muito pertinente. Para Nelson Pimenta, mais do que limitar o acesso aos meios, deve-se «formatar os valores».

Juan Della Torre, CEO e fundador da La Machi – Comunicação para Boas Causas, sublinhou o sentido de responsabilidade que é necessário ter quando se lança uma APP. Em sua opinião, os criadores de aplicações móveis devem fomentar não só a «criatividade», mas também o «profissionalismo», colocando à partida questões como: «Qual a necessidade da APP que quero criar? Para que serve? Facilita a vida dos utilizadores?».

Patrícia Dias, professora e investigadora da Universidade Católica Portuguesa, afirmou que o mundo digital «não é um conceito isolado» do mundo físico; não é «um mundo à parte das restantes estratégias de marketing». Por isso, é necessário «desenvolver a literacia nos diferentes públicos e em todas as idades», munindo os consumidores com «ferramentas para descodificar as mensagens publicitárias».

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Abordando a relação dos jovens com as notícias falsas, Fábio Ribeiro, docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, referiu que a tecnologia trouxe um novo dicionário com muitos estrangeirismos e deixou um aviso sobre a circulação da informação, lembrando que «a velocidade da mentira é muito mais rápida do que a verdade».

Pe. António Valério, sj, diretor da Rede Mundial de Oração do Papa – Portugal, realça que a realização das III Jornadas de Comunicação Digital, feita em parceria com as Jornadas Nacionais de Comunicação Social, foi «um verdadeiro sucesso». O responsável destaca três «frutos principais desta edição», nomeadamente, o número record de 165 participantes, que reuniu no mesmo evento «os públicos que antes participavam nas anteriores edições das duas Jornadas», realçando a presença de «muitos jovens implicados na comunicação das várias instituições católicas portuguesas», a «qualidade» e a «diversidade» das conferências e workshops, com orientações «muito práticas» e que, na avaliação dos participantes, foram considerados «muito úteis e animadoras para a continuação das boas práticas de comunicação que tem vindo a ser desenvolvidas pelas várias instituições», e, ainda, a «boa experiência de colaboração» entre o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e a Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal, que «dá um maior relevo à necessidade do trabalho em conjunto entre instituições dedicadas ao tema da comunicação digital, e com frutos evidentes». «É um caminho que se está a percorrer e que abre imensas perspetivas de futuro, nesta lógica da colaboração», conclui.

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