A Quaresma coloca-nos a caminho para conseguirmos chegar à Páscoa que é a passagem, que é a conversão ao amor de Jesus e dos outros. O esforço da Quaresma tem de ser o caminho do amor a Deus na oração, no louvor, na meditação da Palavra, na presença a Jesus do sacrário, na contemplação das suas dores, paixão e morte, e no amor do próximo recordando o mandamento novo da caridade fraterna e lembrando a palavra do Papa Francisco: o outro é um dom. Acolher o outro como dom, tratá-lo como dom, amá-lo como dom, servi-lo como dom de Deus, é o nosso caminho quaresmal.
A santidade é o amor, é a vida de Deus em nós, é a seiva divina que nos transforma e converte. A oração e a penitência só têm sentido se nos levam a amar, amar mais, amar melhor. Então tudo deve convergir para uma caminha que tem por meta o amor. Só amando seremos mais santos, ficaremos preparados para a Páscoa, seremos discípulos amados do Mestre, que foi à Cruz e deu a vida por nós. Amar sempre, nunca desistir de amar. Amar em casa, a família, amar na paróquia e ser elo de ligação e de unidade, de ausência de crítica e de rancor e divisão. Amar sobretudo o pobre, o doente, o que vive só, o que está mais abandonado, isolado, marginalizado. Amar e servir no emprego, na escola, na universidade. Ter o coração aberto aos outros que são dom de Deus para serem amados.
A alma do mundo está doente, o coração da humanidade está doente. E a grande doença é a falta de amor. Daí haver tanta guerra, tanto crime, tanto egoísmo, tanto ódio, tanto desprezo pelos milhões que vivem com fome, sem casa, sem emprego, sem alegria, sem carinho, sem amor. Mundo cruel, satânico, manobrado pelo pai da mentira, pelo príncipe das trevas. Mundo da opulência, do dinheiro que manobra e tece enganos, furtos, condenações horríveis, marginalizações criminosas, corrupção, falta de liberdade interior. Se houver mais amor evangélico, haverá menos abortos, menos adultérios, menos fome, menos desprezo pela pessoa humana que é para nós um dom de Deus. Se houver mais amor, haverá mais justiça, mais distribuição e partilha de bens, mais proximidade do pobre, do sem-abrigo, do doente, mais respeito pela liberdade humana e pela dignidade de cada pessoa. Um mundo com a alma e o coração doente, gravemente doente, onde reina a mentira, a injustiça, a exploração, o tráfico de pessoas humanas, onde se despreza a Deus, a sua lei, a sua Igreja, e onde se matam homens e mulheres criados à imagem de Deus.
Corações endurecidos pelo poder, pelo dinheiro, pelo ódio, com ânsia de morte, de destruição. Corações endurecidos que não se debruçam para ajudar, para servir, para partilhar o que são e têm. Corações endurecidos pela ânsia de prazer, de comodismo, minados pelo egoísmo feroz e cruel, que semeia dor, fome, e não estende a mão nem abre o coração ao mais pobre e marginalizado. Corações endurecidos que perderam o dom de amar, de olhar os outros com carinho, com desejo de servir, de ir ao encontro de quem sofre, semeando com audácia, pão e paz, amor e alegria, verdade e justiça.
Viver a Quaresma com sabor a Páscoa amando sem cessar, descobrindo modos concretos de amar mais e melhor. Imitar o Senhor Jesus que passou fazendo o bem e curando a muitos e que foi até ao extremo do amor na morte como dom pleno de Si mesmo. Imitá-Lo, viver à sua semelhança, fazer tudo para que a Quaresma seja caminhada de amor rumo à Páscoa. A oração diária deve conduzir-nos ao amor. A Eucaristia deve ser cada dia escola de amor. Só amando seremos mais santos, mais felizes, mais parecidos com Jesus, o Divino Mestre. Amar sempre, amar a todos, amar mais, não se cansar de amar. Semear com nosso exemplo e testemunho de vida o amor evangélico, a caridade sem limites, a partilha generosa, o desejo de só fazer e dizer o bem, o serviço dedicado aos outros, a atenção atenta aos necessitados, a partilha feita com delicadeza e generosidade. Um caminho quaresmal semeado de caridade, vivido em caridade, partilhando amor, gerando Cristo num mundo doente que só com Ele poderá ser curado.
Dário Pedroso, sj