O sopro divino da manhã de Pentecostes, que veio com certa violência e se manifestou nas línguas de fogo, é Pessoa divina, que continua esquecida e desprezada. Além de sopro, de vento, de fogo, manifestou-Se na história como água divina, como sabedoria, como Espírito de discernimento e de purificação e age sempre como Mestre interior que alimenta a nossa oração, a nossa sede de Deus, o nosso desejo de absoluto, a nossa fome do divino, a nossa ânsia de felicidade, o nosso encanto pela alegria de Deus, pela beleza do interior de nós mesmos. Esquecemo-nos dEle, não O desejamos, não temos ânsias de comunhão, não desejamos arder pelo poder desse fogo divino, não nos deixamos conduzir por sua luz e sabedoria.
Ele, o Espírito divino, o Paráclito do Pai, esse fogo que desceu sobre os Apóstolos e os transformou, mudou as suas vidas, as suas inteligências, as suas vontades, os seus afetos, continua esquecido, às vezes desprezado, outras vezes ainda entristecido no coração, no interior, no sacrário divino que é o coração do crente, pois o mal e o pecado que fazemos contrista o Espírito.
Sem esse Espírito não há discernimento possível, não acertamos com a vontade de Deus nem a desejamos na vida, não nos propomos fazê-la, amá-la, cumpri-la sabendo que é o nosso bem, a nossa fonte de felicidade, o nosso caminho, a força que nos deve dinamizar.
Deixamo-nos atrair por aquilo que não nos mata a sede de felicidade e de divino, fazemos o que nos agrada, não nos questionamos sobre os parâmetros evangélicos que devem ser o nosso teor de vida e conduzir o nosso caminhar.
Sem Espírito e sem discernimento andamos à deriva, somos dominados pelo desejo de ter, de ter mais, de ter melhor, como somos manipulados pelo poder do dinheiro, do egoísmo, da violência, do que nos leva a caminhar para um vazio interior, onde nos sentimos ressequidos, sem fé, sem alegria, sem encanto, sem amor ao bem e à beleza, à vida e aos outros. Não nos aproximamos de Deus, que Se torna um rival, um intruso, um violento que nos impede de sonhar uma felicidade fora dEle. Daí as fraudes, a ganância déspota, o poder que corrompe, o dinheiro que cega e desvirtua o bem. Há gente tão pobre que só tem dinheiro. Não tem paz, alegria, amor, graça de Deus, vida espiritual, capacidade para amar os outros e se desprender de algo que ajude a felicidade de quem os rodeia.
Precisamos, olhando o mundo que nos rodeia, de suplicar um novo Pentecostes, a graça do Espírito em cataratas divinas derramado sobre todos. Sobre os pastores e os fiéis, sobre os párocos e as paróquias, sobre os superiores e os consagrados e consagradas. Sobre os membros dos governos, sobre os que ocupam a chefia das empresas, das universidades, dos tribunais, das escolas, dos hospitais, etc. Um pouco por todo o lado, sentimos como o mundo que nos rodeia e as notícias que a comunicação social veicula, os debates televisivos, as rixas entre partidos e dentro dos partidos, as inúmeras fraudes, etc., etc., precisam da ação do Espírito, mesmo aqueles que nEle não acreditam.
Mas os que lerem estas linhas e que acreditam no Espírito Santo e na sua ação em nós, na Igreja e no mundo, aquele Espírito que converte e purifica, que pode renovar a face da terra e fazer os corações moldarem-se ao bem, à verdade, à justiça, supliquem um renovado Pentecostes.
As famílias, pais e filhos, avós e tios, os membros dos movimentos apostólicos, as pessoas que orientam as estruturas da Igreja, aqueles que gerem bancos, economia, saúde, estabelecimentos prisionais, precisam de um novo Pentecostes. Só o Espírito Santo, continuador da missão de Jesus e que realiza na Igreja e na humanidade a vida da graça, o caminho da santidade, a defesa da vida, só Ele pode agir em nós e nos outros para nos ajudar a ter um mundo mais fraterno, mais justo, mais pacífico.
Dário Pedroso, sj