Mário Sérgio Cortella, um filósofo brasileiro, disse que “só há uma maneira de morrer, mas ficar cá; é ficar nas outras pessoas”.
Cada pessoa é um ser único e irrepetível; cada pessoa tem as suas capacidades, os seus talentos que tem obrigação de pôr a render em benefício do bem comum. Nós ficamos nas pessoas que marcamos com a nossa esperança, o nosso afeto, a nossa solidariedade, o nosso amor, o nosso cuidado, a nossa presença. Ficar nas outras pessoas depende, pois, de nós. Ficamos naquilo que deixamos nos outros.
Fez este mês 100 anos que nasceu Sebastião da Gama. Licenciou-se em Filologia Românica em 1947 e deu aulas em Lisboa, Setúbal e Estremoz.
Tomei conhecimento da poesia de Sebastião da Gama há muitos, muitos anos, por intermédio de uma grande amiga que me escreveu numa mensagem o poema mais bonito que eu jamais tinha ouvido: “O Sonho”. Motivada por esse poema, comecei a ler Sebastião da Gama e, ao ler o seu “Diário”, saboreei o empenho e o amor que ele colocou em tudo o que fez no exercício da sua função enquanto docente. Sebastião da Gama, tendo como lema “ensinar é amar”, sempre privilegiou uma relação de muita proximidade com os seus alunos.
“O poeta beija tudo, graças a Deus… E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade… E diz assim: É preciso saber olhar… E pode ser, em qualquer ideia, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos… E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás… E perde tempo (ganha tempo…) a namorar uma ovelha… E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequeno, um bocadinho de sol depois de um dia chuvoso… E acha tudo importante… E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim…”.
Sebastião da Gama teve uma vida muito curta. Aos 27 anos a tuberculose levou-o, mas Sebastião da Gama é eterno. Eterno pela poesia que nos deixou e eterno pelo que deixou de si a todos os que com ele tiveram o privilégio de privar.
“Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos”.
Graça Pimentel