Começou na segunda-feira, dia 18, o oitavário pela unidade dos cristãos. Somos todos convidados a rezar pela unidade das Igrejas cristãs. E não é só a Igreja Católica que propõe este oitavário, mas tantas outras Igrejas cristãs unem-se nesta iniciativa de oração e diálogo. O apelo que este ano nos é deixado é que nos recordemos que «somos chamados a proclamar os altos feitos do Senhor» (cf. 1 Pe 2, 9). Todos nós cristãos, católicos ou não católicos, somos chamados a proclamar ao mundo as maravilhas que o Senhor operou na nossa vida.
São João põe na boca de Jesus esta oração: «Pai santo, Tu que a Mim Te deste, guarda-os em Ti, para serem um só, como Nós somos!» (Jo 17, 11). Todos os cristãos, independentemente da Igreja à qual pertencem, defendem que o corpo de Cristo é um só e que não pode ser dividido. No entanto, olhamos à nossa volta e sabemos que existem cristãos católicos, protestantes e ortodoxos, só para citar as principais divisões, porque na verdade cada um destes grupos subdivide-se muito. Todos estamos de acordo que a Igreja de Cristo tem dentro de si as feridas da divisão e que estas são um atentado contra o nosso chamamento à unidade.
Este escândalo da divisão do corpo de Cristo que é a sua Igreja é um sinal contrário daquilo que queremos anunciar: Jesus Cristo, Deus Encarnado, morto e ressuscitado por nós destruiu a morte. Fez-Se um de nós para nos anunciar um Reino de justiça e de paz. A sua Igreja, desde sempre, desde os inícios que sofre com a divisão. Esta, no entanto, faz-nos tomar consciência de que, de facto, ainda não somos um, como o Filho e o Pai são um.
Este escândalo reflete um mundo dividido dentro de si mesmo, um mundo marcado por tantos conflitos e mortes. Nós, que não somos do mundo mas estamos no mundo (cf. Jo 17, 11-18), trazemos tantas vezes este espírito de divisão para dentro do corpo de Cristo. Tantas vezes parecemos estar tão mais preocupados em mostrar que temos razão do que em acabar com os conflitos; às vezes, parece que estamos mais interessados em defender os nossos interesses individuais do que em anunciar Jesus Cristo ao mundo. Sem que nos apercebamos, acabamos por arrancar membros ao corpo de Cristo.
Com o Concílio Vaticano II, tomamos consciência que estas feridas são escandalosas e são impedimento para que tantos homens e tantas mulheres possam realmente aderir ao corpo de Cristo. Se um povo está dividido em si mesmo fica devastado (cf. Mt 12, 25). Não pode sobreviver. Todos os cristãos, católicos ou não, procuram seguir o Senhor, mas às vezes, mesmo que não tomemos consciência disso, transmitimos uma imagem de divisão e separação que não é compatível com Jesus.
O Papa Francisco tem dito repetidas vezes que o diálogo com as outras confissões cristãs é uma prioridade para a Igreja. Ele não teve problemas em convidar um Patriarca Ortodoxo, o Metropolita Zizioulas, para os relatores na apresentação da Encíclica «Laudato Si», ou em afirmar que o Papa copta Tawadros, sucessor de São Marcos em Alexandria, é um místico. O Papa está a dizer-nos que aqueles que são diferentes de nós podem até causar-nos dúvidas, mas que que a única via para encontrar a paz e a unidade é através da amizade e do diálogo. Um exemplo muito bonito disto é a mensagem vídeo que o Papa Francisco enviou ao congresso americano dos Pentecostais em que se refere a um bispo dessa confissão cristã como seu «irmão, bispo seu irmão» e amigo.
Numa outra entrevista diz que sofre por não poder celebrar a eucaristia, sinal de união e comunhão, com tantos homens e mulheres amigos em Cristo, porque ainda não conseguimos ultrapassar as feridas e as barreiras que nos dividem.
Este oitavário de oração pela unidade dos cristãos é uma boa oportunidade para pedir ao Senhor que nos ajude a desfazer as barreiras que nos separam uns dos outros. Não só dos nossos irmãos ortodoxos ou protestantes, mas também dos nossos irmãos da nossa paróquia ou do nosso movimento com os quais ainda não nos sentimos como parte do mesmo corpo. Somo chamados por Jesus a formar, com Ele como cabeça e com todos os nossos irmãos e irmãs, um só corpo e um só espírito e assim proclamar as maravilhas que o Senhor faz!
Manuel Morujão, sj