Ligamos a televisão em casa e uma avaria elétrica impede-nos de ver o nosso programa preferido. Que fazemos? Preocupamo-nos logo em saber quando estará tudo normalizado e entretanto sentimo-nos algo vazios porque aquele silêncio nos incomoda.
Saímos de casa e, passado algum tempo, descobrimos que nos esquecemos do telemóvel. Que fazemos? Provavelmente voltamos atrás para o ir buscar, nem que isso implique chegar mais tarde aos nossos compromissos.
É verdade que o ritmo apressado do dia a dia nos empurra quase instintivamente para hábitos e gestos que já se tornaram rotineiros. Já não sabemos viver sem eles e ficamos logo aflitos quando alguma coisa não está bem.
Ao começar um dia, muitas pessoas pegam logo no telemóvel ou no smartphone e vão ver as novidades: o último comentário no facebook, a última mensagem de email recebida… Se calhar fazem-no antes de dar um bom dia pessoal aos colegas de trabalho ou àqueles com quem se cruzam nos transportes públicos ou no estabelecimento onde vão tomar o pequeno-almoço ou comprar o jornal.
Os dedos nos dispositivos eletrónicos e o olhar direcionado para os pequenos ecrãs são cenários comuns na sociedade atual, que já nos habituamos a ver.
Ninguém duvida dos benefícios que estes aparelhos podem trazer para o dia a dia dos cidadãos. Mas a sua utilização deve ser medida e comedida, de modo que as pessoas não se tornem escravas dos mesmos.
Porque não ter a ousadia de ser diferente dos outros? Não há nada como experimentar!
As quebras de rotina são fundamentais para que saibamos gerir o emaranhado de relações em que nos vemos constantemente envolvidos. Vamos assumir um propósito concreto neste sentido?
Vamos marcar um dia na agenda para não ligar o correio eletrónico ou o facebook? Vamos escolher um dia ou um momento do dia para sair sem o telemóvel, aproveitando por exemplo para fazer uma caminhada ou para estar com familiares e amigos que tenham assumido um propósito idêntico? As conversas que surgirem terão certamente uma riqueza maior! Vamos escolher um tempo para, em casa, não ver televisão, não ligar o rádio e desligar o telemóvel, deixando-nos simplesmente estar com os que moram connosco? Vamos aproveitar um momento do nosso dia para, tão somente, nos deixarmos estar, sem nada para fazer? E, depois de vivermos essa experiência, pensemos naquilo que ela nos proporcionou.
O período de verão que se aproxima é propício para colocar em prática estes desafios, para introduzir quebras na rotina que nos permitam efetivamente descansar desta pressão eletrónica, aproveitando para lançar um olhar novo sobre aquilo que nos rodeia, aproveitando para contemplar de modo diferente espaços por onde passamos todos os dias, quando vamos de olhos e dedos postos no tablet ou no smartphone, e para ouvir o que o silêncio tem para nos transmitir.
Cláudia Pereira