No dia 24 de janeiro deparei-me com este título em letras garrafais, numa revista online: «Jade quer encorajar as mulheres a tomar a ingrata decisão de abortar». E a revista, não dizendo explicitamente que estava de acordo com «Jade», publicitava o seu apelo com grandes parangonas. Talvez não o fizesse se a linha editorial tivesse uma postura mais cética em relação a encorajar-se, nos media, as mulheres a fazerem o aborto. Lendo o artigo, percebe-se que Jade não está a encorajar as mulheres a praticar o aborto por uma razão qualquer mas quando os bebés têm, ou os médicos dizem que poderão vir a ter, problemas genéticos que se vão transformar em doenças graves depois de nascerem. Mas o título da notícia, como muitas vezes o mau jornalismo faz, para causar um efeito mais bombástico, adultera o que a dita senhora de facto diz. Os autores do artigo dão a voz a Jade que diz que o filho com o sofrimento que teria depois de nascer (mielomeningocele1) não teria uma vida plena e que os pais não podem consentir que a criança não tenha uma vida «plena».
Nós, católicos, temos de estar muito atentos a estes raciocínios falaciosos que, algumas vezes, não duvido, serão feitos com a melhor das intenções e sempre muito simplismo. E suponho que haverá, também, nas mães e nos pais um desejo de se subtraírem ao sofrimento, esforço e trabalho que um filho destes daria. O que está, de facto, em causa é uma questão anterior a essa: é a do valor sagrado da vida. Para nós, católicos, a vida é sagrada e ninguém pode acabar com ela. E a partir da fecundação já há vida humana. Esta vida não se pode matar em nenhuma circunstância. Deus quer que nós deixemos a natureza seguir o seu curso.
Mais recentemente vi no jornal online «Observador» (12.5.19) a notícia de uma atriz que incentivava a que se fizesse greve ao sexo (a ter relações sexuais) por no estado da Georgia (EUA) ter passado uma lei que proibia o aborto a partir do momento em que se detetava o batimento do coração do bebé. O grande argumento da atriz era o direito da mulher ao seu corpo. Eu deduzo que o argumento seria este: a mulher é dona de um corpo no qual se um corpo estranho penetra sem autorização tem de ser pura e simplesmente morto. Tal como um vírus. Este argumento, o mais cru na defesa do aborto, traz ao de cima a verdadeira motivação, para abortar, da mulher que não recua perante nada para garantir o bem-estar do seu corpo. Estamos no epicentro da sociedade hedonista.
Nós, católicos, temos muito claro que um bebé não é um vírus. Que o bebé nunca é um vírus. É uma vida humana. E que NUNCA se pode matar. E devemos estar preparados para ter 90 por cento das pessoas, ou mais, contra nós.
1 Tipo de espinha bífida que resulta em paralisia parcial ou completa da zona do corpo situada abaixo da abertura da medula.
Gonçalo Miller Guerra, sj