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Olhar com os olhos de Deus

Andei nos últimos tempos, para além da política, das eleições, dos vendavais que nos sopram inquietação, desgraça, medo, andei, dizia, mergulhado em maravilhas do amor de Deus. Com o olhar de Deus conseguimos ver melhor essas graças, essas maravilhas, esses toques de divino que nos enchem o coração de paz, de esperança, de alegria. O mundo à nossa volta, visto com o olhar de Deus, é muito mais belo do que nós à primeira vista podemos descortinar. Se não olhamos o mundo assim ficamos amargados, apreensivos, com coração envinagrado, revoltados, sem alegria e sem esperança.

Levemos o nosso pensamento, o nosso olhar interior, o nosso coração até Roma, até ao Vaticano, até à aula sinodal. Que maravilha. A Igreja reunida, com o Papa Francisco, para rezar a família, para tratar de temas importantes sobre a família, para nos abrir horizontes sobre a pequena “igreja doméstica”. Está lá o Espírito Santo. Estão lá muitos corações e inteligências que buscam com seriedade e amor o melhor. Estão lá, em comunhão de oração, muitos milhões de cristãos. Está lá a Mãe das Famílias, a Virgem de Nazaré. Temos que viver em alegria e em santa esperança na certeza do amor do Pai e da Família trinitária, que quer o melhor para as famílias do mundo inteiro. Na oração discernida, com a ajuda de todos, vão sair maravilhas que ajudarão a família a ser mais família. É esta a nossa fé. Que dom precioso.

Mas olhando com os olhos de Deus vislumbramos também muitas situações terrivelmente dolorosas de milhões de refugiados, que fogem à fome, à guerra, à violência, ao crime, à morte. São homens e mulheres, são crianças e jovens nossos irmãos. São Jesus que sofre. É Ele que temos, com o olhar de Deus, de descobrir em cada um dos refugiados, dos pobres, dos que sofrem. Com o olhar de Deus saberemos descobrir maneiras de amar, de servir, de ajudar, de ser presença de amor, de justiça, de verdade, de fraternidade. Só o amor salva. Só o amor liberta. Só o amor faz comunhão e fraternidade.

Numa peregrinação de casais, a pé para Fátima, pude ver como olhar de Deus, muito dom e graça, no coração, na abertura ao amor, na partilha fraterna, na conversão, no sacramento da reconciliação, nas horas silenciosas e orantes. Quantas maravilhas vividas e partilhadas. Quantas vezes a Senhora da Mensagem, a Mãe peregrina, nos pegou ao colo e nos conduziu para Jesus, no meio do caminho, muitas vezes ensopados em água pela chuva que caía. Mas com os olhos de Deus vimos pequenos “milagres”, dons da graça de Jesus Redentor sempre a operar na vida, em cada passo, na peregrinação inteira. Bendito seja Deus.

E com os olhos de Deus vimos o poder da oração, naquelas muitas dezenas de milhares de peregrinos, no dia 11 de outubro, que quase enchiam o recinto do Santuário de Fátima, na peregrinação nacional do Apostolado da Oração. Grande obra da Igreja, esta, deste serviço de uma imensa família orante em que todos rezam por todos, em comunhão com o Papa Francisco. Em união e oferta com Jesus em cada Eucaristia, feitos hóstia viva, em oferenda permanente. Vindos de muitas centenas de paróquias, de todas as dioceses, juntaram-se em Fátima, para rezar e testemunhar o valor e a força da oração. Para nos dizer que a oração é o essencial, para nos mostrar que a vida oferecida com amor ajuda à salvação do mundo. Apesar da chuva, ou talvez por causa dela e do sacrifício que ela exigiu, que maravilhoso espetáculo de fé e de oração. Com os olhos de Deus podemos vislumbrar a graça, a ação divina, a riqueza da espiritualidade e da vida dos membros do Apostolado da Oração. E ele vai crescendo e renovando-se. Tudo é graça.

 

Dário Pedroso, sj

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