“Dialogar não significa pensar da mesma forma. Dialogar é aproximar as pessoas, conhecer o outro, conhecer as suas diferenças, … e partir desta diversidade para pensar um caminho conjunto” (Marwan Gill, Imã).
Se folhearmos a Carta Encíclica que o Papa Francisco escreveu em 2020, Fratelli Tutti, encontramos o seguinte parágrafo. “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender, procurar pontos de contacto: tudo isto se resume no verbo ‘dialogar’. Para nos encontrarmos e ajudarmos mutuamente, precisamos de dialogar. Não é necessário dizer para que serve o diálogo; é suficiente pensar como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades. O diálogo perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os conflitos; e, contudo, de forma discreta, faz muito mais do que possamos notar, ajuda o mundo a viver melhor”.
O diálogo é uma das mais antigas, importantes e eficazes formas de comunicação humana. Desde tempos imemoriais, as pessoas têm recorrido ao diálogo para compartilhar ideias, resolver conflitos, transmitir conhecimento e criar laços sociais. Nos dias de hoje, a arte de dialogar anda muito esquecida. Trocamos muitas palavras, mas não dialogamos. Precisamos urgentemente de recorrer ao diálogo, à arte de conversar – conversar mais sobre ideias e menos sobre coisas; conversar trocando ideias em vez de conversar trocando palavras.
O diálogo desempenha um papel crucial na vida humana. Ele é a base sobre a qual construímos as nossas relações interpessoais e sociais. Através do diálogo, conseguimos todos expressar os nossos pensamentos e sentimentos, compreendendo melhor as perspetivas uns dos outros. O diálogo também é fundamental para a democracia, pois permite o debate de ideias e a tomada de decisões coletivas. O adversário combate-se com diálogo, não com mentiras, enxovalhos ou insultos.
O diálogo é essencial para a construção e manutenção de relacionamentos saudáveis – permitindo que as pessoas se conectem profundamente, compartilhando experiências e emoções – e é uma ferramenta poderosa para a resolução de conflitos – permitindo que as partes expressem as suas necessidades e preocupações, promovendo a compreensão mútua e a busca por um terreno comum. Para que o diálogo seja eficaz, é necessário que ele seja pautado pela escuta ativa, o respeito mútuo, a clareza, a honestidade, a flexibilidade e a abertura. A escuta ativa é uma das habilidades mais importantes no diálogo. É preciso escutar e não só ouvir; afundar-se nos argumentos do outro e apresentar os seus argumentos, crescendo ambos, harmonizando as duas verdades, fazendo uma comunhão através do diálogo. Assim podemos utilizá-lo para promover a compreensão, a colaboração e a paz na nossa sociedade.
Nem entre indivíduos, nem entre grupos, nem entre governos, o diálogo é fácil. Mas é absolutamente necessário. Envolve prestar atenção plena ao que o outro está a dizer, sem interrupções ou julgamentos. Exige empatia e capacidade de refletir sobre o que foi dito, incentivando o interlocutor a expressar-se de maneira mais completa e honesta. O diálogo é difícil, mas treina-se e pode levar à resolução de problemas. Às vezes, a vontade é desistir, mas o diálogo obriga-nos a ser pacientes e ver no outro um ser humano como nós. Ter paciência é sinal de sabedoria, pois, com ela, evitamos muitos contratempos, conflitos e confusões, ela controla o desejo de dominar e desrespeitar o outro.
Dialogar com o outro, com aquele de quem discordamos, é um grande prazer da vida e ajuda a ultrapassar as diferenças. Eve Pearlman diz: “É um bálsamo de que a nossa democracia precisa realmente”. Eu diria que é um bálsamo de que a nossa vida precisa realmente.
A nota positiva é que todos temos algum poder, pelo menos o poder da palavra, o que já não é pouco. Num tempo de tanta comunicação difundida, temos meios de nos ligarmos ao outro, de lhe chegar, de o incluirmos na solução. Temos uma caixa cheia de ferramentas que podemos usar para fortalecer a nossa comunicação. Precisamos urgentemente de as utilizar.
Em 2011, Jonas Gahr Støre, então Ministro das Relações Internacionais, hoje primeiro-ministro da Noruega, fez uma palestra de que retiro a seguinte frase “… Se nos recusarmos a falar com os novos grupos minoritários (radicais, por exemplo) que vão dominar as notícias nos anos vindouros, vamos aumentar a radicalização”. Desde 2011, o mundo tem testemunhado um aumento significativo na radicalização, tornando as palavras de Jonas Gahr Støre premonitórias. A abordagem de Støre sugere que ignorar ou marginalizar grupos extremistas pode aprofundar divisões e alimentar tensões, enquanto o diálogo pode abrir caminhos para soluções mais sustentáveis.
Numa revista dos Jesuítas, li uma homenagem ao padre jesuíta José Maria Brito, que faleceu repentinamente em abril de 2024: “Deixa como testemunho o gosto pelas boas conversas, a importância do diálogo na construção de pontes e a capacidade de fazer da tensão um bom lugar para habitar”, diz-se nessa homenagem. Peçamos a sabedoria de conseguir “fazer da tensão um bom lugar para habitar”.
Graça Pimentel





