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“Ninguém ama o que não conhece…”

A Humanidade vive submersa num mundo que a afoga em informação. Nunca na história do Homem esteve disponível tanta informação, ao alcance de tantas pessoas e de forma tão acessível e barata. É uma verdadeira overdose informativa, de todos os tipos e conteúdos, que inunda as mentes mas sem um contexto, uma lógica, um fio condutor, que confunde mais do que esclarece e deseduca mais do que educa.

Neste cenário de abundância de informação, o conhecimento esclarecido da fé é, cada vez mais, um imperativo.

Deus pede-me que transforme o mundo num mundo melhor. Como? Em que terrenos, dentro de mim, vou enraizar esse desígnio de Deus? Deus dá-me, no Evangelho, o testemunho do seu Filho para que eu possa seguir os caminhos da salvação. Mas como posso amar e viver esses caminhos se, muitas vezes, nem os conheço? E se não os conheço, não os compreendo na sua dimensão maior.

Só posso mudar o mundo se conhecer as suas luzes e as suas sombras, se estiver inserido na sua cultura e na sua história. Para ser a presença de Cristo nesse mundo, ser a presença da Igreja na sociedade é preciso muito mais do que apresentar apenas o título de cristão. A fé é um testemunho de vida capaz de transformar, mesmo que de forma singela, o que acontece ao nosso redor. Ser Igreja no mundo é viver intensamente o Evangelho, é seguir a Cristo e ser capaz de anunciá-Lo. É ter convicção, demonstrá-la com a vida. Por isso, a formação e o conhecimento vão muito além de estudar, ler ou ouvir. A formação e o conhecimento pressupõem experiência de vida, experiência comunitária, experiência de amor a Deus e ao próximo, experiência de Igreja. O verdadeiro sentido dessas vivências é obra, em primeiro lugar, da nossa fé, mas solidificada por um conhecimento das realidades de Deus. Por isso, o cristão leigo, mais do que nunca, precisa de ter também conhecimentos pastorais, bíblicos, teológicos, filosóficos e éticos. Ou seja, tem que saber qual é a sua espiritualidade cristã. Caso contrário, corre o risco de ter uma prática de vida incoerente com os valores da verdade evangélica. Ninguém ama aquilo que não conhece.

É verdade que não se nasce cristão. A iniciação ao Cristianismo supõe que tenha havido algum contacto com a proposta cristã e com Jesus e que esse contacto tenha despertado não só um interesse por conhecê-Lo melhor, mas também uma fé inicial.

O despertar dessa fé inicial em Jesus Cristo parte, em muitos casos, do ambiente familiar.

A formação da fé deve levar a transformar essa fé inicial numa fé adulta, mais madura e consciente, que compromete e se torna consequente na vida de cada um.

A catequese é a forma por excelência para iniciar esse caminho de maturidade religiosa mas, infelizmente, um processo de iniciação torna-se, em muitos casos, um processo de conclusão. Ou seja, o sacramento da confirmação marca também para muitos jovens o fim da prática religiosa e, talvez também, da fé cristã.

A fé alimenta-se com a vivência do Evangelho mas de forma esclarecida, conhecedora dos valores e dos princípios que Jesus pediu que seguíssemos. A procura do saber, a procura da formação é um caminho comunitário de fé que reforça o nosso amor a Jesus. Investir em cursos, palestras ou encontros proporciona que se vá construindo a formação, despertando em nós o desejo de continuar inserido na vida da Igreja e de levar o anúncio do Evangelho. Para além do mais, não somos tão ricos que não tenhamos nada a receber dos outros. Aproximo-me mais de Cristo à medida que melhor O conheço.

Para dar uma reposta aos questionamentos com que me defronto diariamente, faz-se necessário ser adulto na fé.

E ser adulto na fé é ir ao encontro do crescimento e amadurecimento de uma visão de fé, de Igreja, de religião e até mesmo de mundo. Caso contrário, estou a viver uma fé meramente emocional, epidérmica, ritual. Uma fé que tanto poderia ser esta como outra qualquer. Mas no pólo oposto, também não posso transformar-me num tecnocrata da fé. A sabedoria está no equilíbrio do que sentimos e do que sabemos e na simbiose entre essas duas realidades. Só sentimento é pouco… Jesus também conhecia as leis do seu povo. Quantas vezes O encontraram a falar sobre a palavra do Pai e a deslumbrar quem O ouvia pelos conhecimentos que demonstrava? Mas também chamou hipócritas aos Doutores da Lei e aos fariseus, à fé sem obras.

Para aliviar um pouco o discurso, conto aqui o episódio da mãe ignorante, mas amorosa: ela alimentava os filhos com uma dieta baseada em carne, porque acreditava que carne era o melhor tipo de alimento. Um dia, depois de ler um guia de nutrição, começa a comprar uma mistura de todos os tipos de comida para os seus filhos. Como resultado, os filhos tornam-se mais saudáveis. Pergunta: esta mãe amava mais os seus filhos antes ou depois de ter adquirido esse conhecimento? Não terão dificuldade em dizer que os amava da mesma forma, contudo, até adquirir o conhecimento, o seu amor era infrutífero, até mesmo contra-produtivo. Conhecimento que é verdadeiro permite que o amor desabroche em bons frutos.

Na procura de uma fé vivida com verdade, a formação e o investimento pessoal no conhecimento de Deus e da dimensão religiosa são decisivos, até porque ninguém ama aquilo que não conhece.

 

Paulo Nogueira

in Mensageiro – Janeiro 2015

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