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Meninos-soldados, infâncias negadas

Aproxima-se o Natal, aquela época mágica em que sobressai a alegria das crianças. E é para as crianças que o Papa nos chama a atenção neste mês de dezembro, para as crianças-soldados, aquelas que vivem bem longe das luzes, das prendas e do conforto de uma família.

Portugal não conhece de perto esta realidade, mas ela existe e é tão triste e atroz que mais parece uma história do mal só imaginável em filmes. Porque distante e incómoda, a situação destas crianças é quase ignorada. Uma espécie de problema daqueles povos lá longe que vivem sempre em conflito.

Os meninos-soldados são crianças em plena infância, algumas com menos de dez anos, que em vez de brinquedos têm armas, as brincadeiras de faz de conta são substituídas por treinos militares e os jogos implicam matar seres humanos.

Nasceram e cresceram no meio da guerra. Umas integram as fileiras dos combatentes por vontade própria, geralmente motivadas por situações de extrema pobreza, desestruturação familiar, orfandade, pouco acesso à escolarização, sentimentos de vingança (muitas foram testemunhas ou vítimas de violência extrema). Outras são forçadas a fazê-lo, por exemplo, raptadas à saída da escola, quando vão buscar água ou a brincar na rua. Há casos em que os próprios pais oferecem os filhos em troca de um pequeno salário para matar a fome a toda a família. Há ainda crianças que, vendo-se em situações de violência e de caos, encontram proteção num grupo armado.

Estas crianças vivem sobretudo no Médio Oriente e em África, mas também em alguns países da América Latina. Neste último caso, são usados especialmente pelos cartéis de droga. Embora a maioria seja rapazes, também há muitas raparigas. Os grupos armados, os “senhores da guerra” recrutam propositadamente crianças porque são mais obedientes que os adultos, são fáceis de instrumentalizar e não questionam ordens.

O impacto dos conflitos armados na vida destas crianças é devastador e muitas vezes invisível. As que sobrevivem sofrem em silêncio durante anos, sem auto-estima, com medo, verdadeiramente atormentadas. A negação e destruição dos sonhos destes meninos deve implicar-nos a todos, incluindo os mais acomodados num mundo de paz.

Ainda que ao longe, o nosso contributo é possível e importante, seja através da oração, como pede o Santo Padre; da compaixão, padecendo com o outro, como sugere Maria Calderón, uma psicóloga espanhola que trabalhou no Congo com crianças “resgatadas” aos grupos armados; e de uma cultura de paz, a que estamos chamados sobretudo enquanto cristãos.

 

Elisabete Carvalho

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